Painel online reuniu especialistas que levantaram temas como a segurança do consumidor, do produtor e do meio ambiente
Do campo à mesa, a trajetória de um alimento passa por diversas etapas, como a colheita, o transporte, os processos de manuseio e embalagem, até a oferta para os consumidores. Abordando todos os elos dessa cadeia produtiva, a Fundep, em parceria com o State Innovation Center, reuniu especialistas de diferentes esferas de atuação e pesquisa para o painel online “Rastreabilidade dos alimentos – Inovação e Pesquisa do Campo à Mesa”, realizado na última terça (25).
Participaram Britaldo Silveira Soares Filho, Professor do Departamento de Cartografia (Instituto de Geociências) da UFMG; Carlos Eduardo Oliveira Bovo, Superintendente de Inovação e Economia Agropecuária da Secretaria de Estado de Agricultura, Pecuária e Abastecimento de Minas Gerais (SEAPA); Herbert Kanashiro, Especialista em Sustentabilidade na GS1 Brasil, Associação Brasileira de Automação; Julia Carlini, Gerente de Qualidade do Carrefour Brasil; e Rodolpho Titini, Professor do Instituto de Ciências Agrárias da UFMG (ICA – Montes Claros | MG). O evento foi mediado por Janayna Bhering, Executiva de Negócios e Parcerias da Fundep.
Partindo da indústria 4.0, que usa a automação e a troca de dados para aumentar sua eficiência, e do consumidor que usufrui das tecnologias para comportamentos mais ativos e conscientes, a rastreabilidade dos alimentos é uma exigência que garante a origem da matéria-prima para quem produz e para quem consome. “Muitas pessoas confundem a rastreabilidade com um benefício ou uma tecnologia. Na verdade, ela é um conjunto de processos, que visa a identificação do item em sua origem e o acompanhamento em toda a cadeia produtiva. O primeiro olhar é para o processo. Depois, vem a tecnologia e, nesse contexto, a automação potencializa os ganhos de rastreabilidade”, esclareceu Herbert Kanashiro, da GS1 Brasil.
A aliança entre processo e tecnologia, por sua vez, envolve os atores da cadeia produtiva e trazem benefícios para todos. “A função do governo é importante para criar as regulamentações da rastreabilidade, como certificações e selos. Mas o varejo, impulsiona a rastreabilidade. Temos o papel de desenvolver essa cadeia para trás e manter a qualidade do produto até ele chegar no ponto de venda. Não é só exigir isso do produtor, mas ajudá-lo a tornar o processo mais eficiente. É uma relação ganha-ganha”, explicou Julia Carlini, do Carrefour Brasil.
Carlos Bovo, da SEAPA, complementou essa perspectiva ressaltando a importância de considerar a realidade do produtor. “É fundamental a parceria entre academia, indústria e governo para formular políticas públicas que são viáveis de ser implementadas do ponto de vista do produtor. Existem algumas dificuldades para implementar tecnologias complexas nessa realidade, mas é muito importante que o produtor fale de onde vem aquele produto. Isso é a valorização do que é bem produzido”, afirmou.
Ciência e tecnologia para apoiar a segurança alimentar e a sustentabilidade
Manipulando os principais dados da trajetória de um alimento, é possível compreender os pontos críticos no manuseio, transporte e chegada no ponto de venda, por exemplo. Mas, segundo o professor Rodolpho Titini, do ICA UFMG, a oportunidade está no momento da produção. “Não é possível melhorar o produto na pós colheita, a gente vai, apenas, manter a qualidade. Tecnologias com RFID (etiquetagem inteligente) e big data (processamento e análise de conjunto de dados) disponibilizam todo o histórico do produto, para o consumidor ou varejista”.
“Agregando a capacidade de dados já utilizada, soma-se o monitoramento do produto dentro da própria produção, com tecnologias como machine learning (análise de dados que automatiza a construção de modelos analíticos). Um sensor de temperatura, por exemplo, projeta a qualidade daquele alimento. Isso é inovação tecnológica que a universidade pode aplicar na agricultura”, complementou o professor Rodolpho.
O professor do ICA UFMG reforçou, ainda, a amplitude da rastreabilidade dos alimentos, que também impacta a segurança alimentar e a preservação do meio ambiente: “rastreabilidade e segurança alimentar tem que andar juntas para alavancar a cadeia. A gente quer um produto de qualidade, mas que favoreça a segurança do consumidor, do produtor e do meio ambiente”.
Para o professor Britaldo Filho, do Instituto de Geociências da UFMG, a rastreabilidade dos alimentos passa primordialmente por transparência. E nessa questão, a pesquisa também é fundamental: “temos uma plataforma de dados para consulta pública em parceria com a Secretaria de Meio Ambiente do Pará, chamada Selo Verde. Ela monitora o universo de propriedades do estado do Pará com dados públicos e permite essa transparência”, afirma.
O Selo Verde subsidia o monitoramento e a avaliação de políticas de desenvolvimento agropecuário sustentável e combate o desmatamento ilegal no Estado do Pará. “Temos uma base enorme de dados que nos permite fazer uma radiografia das terras para saber se ela está adequada e dentro das leis. Isso tem muitas implicações: com a manipulação de big data, por exemplo, é possível rastrear a trajetória do gado e checar se ele foi criado em uma propriedade legal. Se ele passar por uma propriedade com desmatamento, ele vai contaminar toda a cadeia produtiva agrícola”, explica o professor Britaldo.
Para o professor do Instituto de Geociências da UFMG, o grande desafio é fomentar a vontade política para iniciativas como o Selo Verde. “Quando a gente fala de rastreabilidade de produtos agrícolas, a primeira pergunta é ‘onde e como?’. A rastreabilidade passa pela sustentabilidade ambiental, que por sua vez, passa pela legalização. E nesse sentido, precisamos de uma cadeia produtiva totalmente transparente”.
Para assistir o evento completo, clique aqui.