Imagine poder mergulhar nas histórias do Brasil e de sua gente, conhecendo detalhes das lutas pela terra no território nacional. Imagine assistir a filmes, shows e peças de teatro na praça da sua cidade. Imagine acessar uma biblioteca com mais de 500 livros e se vestir com roupas de grandes personagens da história brasileira. Tudo isso de graça, no mesmo espaço e com um conteúdo de excelente qualidade.
Não precisa ficar só na imaginação porque este ambiente existe e percorre o nosso país levando cultura e conhecimento para todo mundo. O Caminhão Museu Sentimentos da Terra, do Departamento de História da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), é uma exposição itinerante que desembarca em várias cidades com atrações lúdicas e educativas. Um dos objetivos é valorizar a memória do país.
Com mais de 25 toneladas esse caminhão “transformer”‘ muda completamente o ambiente das localidades onde estaciona. É moderno, equipado com tecnologia de ponta para informação e entretenimento. Ele cruza as estradas brasileiras e quando chega a uma cidade ou vilarejo, desdobra-se, durante três ou quatro dias, em um centro de difusão de conhecimento e de lazer.
Uma das principais atividades do caminhão museu é a exibição de 11 vídeos de animação. Produzidos com técnicas modernas de computação gráfica. Os vídeos contam histórias da Guerra de Canudos, legislação agrária no Brasil, sindicalismo rural, marchas pela terra, além de lutas de quilombolas e indígenas pelos seus espaços no território nacional. Cada filme é narrado por um artista famoso que doou a própria voz para o projeto. Tem Chico Buarque, Wagner Moura, Gilberto Gil, Maria Bethânia, Regina Casé, Caio Blat e muito mais.
“Tudo que faz parte da exposição anda dentro do caminhão. É um grande quebra-cabeça. Ele expande para os dois lados e a traseira. Ele é alto e ocupa espaço, por isso chama muita atenção”, conta a coordenadora do projeto Pauliane de Carvalho Braga. Segundo ela, quando o caminhão chega, as pessoas ficam desconfiadas, perguntam se podem entrar e querem saber se é de graça. A equipe de mediadores, que são estudantes de História da UFMG, traz o público para dentro do museu itinerante mostrando tudo em detalhes.
“De todos os vídeos que exibimos, apenas a história de Canudos é conhecida. Até 1970, tínhamos uma população majoritariamente rural e grande parte da nossa história aconteceu no campo. No entanto, a gente não conhece essa história porque sempre contou-se muito a história das cidades, as questões urbanas. As pessoas ficam deslumbradas quando conhecem”, afirma Pauliane de Carvalho.
Pesquisa, documentação e memória
O Caminhão Museu Sentimentos da Terra é apenas uma das iniciativas dentro do Projeto República, um núcleo de pesquisa, documentação e memória, coordenado pela professora Heloísa Starling. Desde 2001, cientistas desenvolvem trabalhos de interpretação e análise da realidade histórica e política do Brasil.
Os primeiros passos para criar o caminhão museu começaram em 2004, quando os historiadores, em pareceria com o Ministério do Desenvolvimento Agrário, pesquisaram histórias das lutas pela terra no país. Eles produziram livros, CD Room e outros materiais como resultado da pesquisa. Em 2010, foram convidados a transformar este conhecimento em um aparato cultural que divulgasse de forma bem lúdica a ciência produzida e, assim, surgiu o museu itinerante.
“São duas etapas no processo: a produção do conhecimento sobre História, de eventos que nunca foram estudados, além do desafio de colocar isso disponível para o maior número de pessoas. Levar estas histórias a todos faz parte da ideia de democracia. É tirar o conhecimento do lugar fechado em que só eleitos têm acesso”, afirma a professora Heloísa Starling.
Foram três anos de construção do caminhão, entre produção de conteúdo e estrutura física. Toda a criação conta com a parceria do artista e arquiteto Gringo Cardia. O museu ficou pronto em 2013 e, desde então, já realizou 27 turnês em 16 cidades diferentes. Atende a quem quiser chegar, mas tem conteúdo pensado principalmente para crianças no ensino fundamental e adolescentes do ensino médio.
Turnês
- Minas Gerais: Belo Horizonte (10 turnês), Jequitibá, Pouso alegre, Poços de Caldas, Diamantina, Chapada Gaúcha e Caxambu;
- São Paulo: Limeira, Araçoiaba da Serra e São Paulo (capital – duas turnês)
- Rio de Janeiro: Rio de Janeiro (capital)
- Goiás: Goiânia (duas turnês)
- Distrito Federal: Brasília
- Bahia: Salvador
- Rio Grande do Norte: Mossoró
- Pará: MarabáAssim, o museu espalha historia pelo Brasil. Ajuda a reforçar cultura e diversidade em municípios do interior e capitais. As pessoas trocam conhecimento com os organizadores, que também saem transformados de cada itinerância. “O historiador é formado para dar aulas, mas um projeto como esse permite outras habilidades. Coloca este professor a pensar: como faço história usando canção popular, imagem ou fotografia? O historiador, além de professor, vira um pesquisador com várias opções”, conclui a professora Heloísa Starling.
Fonte: Minas Faz Ciência