Recursos da campanha serão usados na criação de plataforma virtual para reunir informações sobre acervos do MHNJB atingidos por incêndio
A campanha de financiamento coletivo Renasce museu, lançada em janeiro pelo Museu de História Natural e Jardim Botânico (MHNJB), bateu sua meta inicial de arrecadação – R$ 300 mil – e deu início à segunda rodada.
A primeira etapa, cumprida com duas semanas de antecedência em relação ao período estipulado e apoiada por 836 benfeitores, viabilizará a contratação de equipe especializada e a aquisição de equipamentos e do software para documentação e gestão de acervos. A segunda, que pretende arrecadar R$ 91 mil, possibilitará a aquisição de módulos do software para o detalhamento no registro dos acervos arqueológicos e ampliação do treinamento da equipe responsável.
O objetivo da iniciativa é angariar recursos para estruturar uma plataforma virtual, pública e gratuita, com informações detalhadas e imagens dos acervos do Museu atingidos por incêndio em 15 de junho do ano passado. Em sua primeira etapa, a campanha contou com o apoio do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), que aportou R$ 2 a cada R$ 1 arrecadado, triplicando, assim, o valor ofertado. Renasce museu prossegue até o dia 25 de fevereiro, mas sem o suporte financeiro do BNDES em sua segunda etapa. A campanha conta com a assessoria da Benfeitoria – consultoria especializada em crowdfunding – e apoio da Fundep e da Administração Central da UFMG.
Segundo a professora Mariana Lacerda, diretora pró-tempore do MHNJB, é fundamental que a campanha consiga atingir a nova meta para viabilizar a inclusão de todo o acervo na plataforma. “Ela ficará disponível para estudantes, professores, pesquisadores e toda a sociedade. O Museu tem um acervo muito valioso, que conta nossa história mais profunda. Com o incêndio, muitos objetos foram impactados, mas o que restou nos mostra a necessidade de seguirmos em frente. A plataforma virtual dará visibilidade a esse patrimônio, incluindo as peças atingidas pelo fogo”, explica.
Estratégias de salvamento
O incêndio afetou principalmente a Reserva Técnica 1, onde ficava guardada coleções de zoologia, arqueologia, paleontologia, materiais etnográficos e cerâmicas do Vale do Jequitinhonha. Muitas peças se perderam e outras foram danificadas. Desde o desastre, o corpo administrativo, técnico e científico do Museu trabalha no desenvolvimento de estratégias de salvamento dos acervos atingidos.
As atividades em andamento contemplam os seguintes passos: cada vestígio foi fotografado in situ com uma numeração específica que o identifica e o posiciona dentro da sala e do mobiliário em que se encontrava. Essa identificação acompanhou todas as etapas do trabalho. Os vestígios foram cuidadosamente retirados do local e colocados em bandejas plásticas ou transportados dentro de suas respectivas gavetas para a sala de triagem, na qual cada item foi fotografado individualmente e acondicionado provisoriamente para ser levado à reserva técnica provisória. Nesse ambiente, a equipe de conservação faz as devidas adequações, arrola o material e o coloca em estantes previamente identificadas. Todo o processo é filmado e/ou fotografado.
Com o objetivo de estimular a participação do público para que a nova meta seja atingida, várias recompensas são disponibilizadas de acordo com a faixa de contribuição, como broches, cartões, camisetas e fotografias feitas por artistas mineiros, como Assis Horta, famoso por registrar o patrimônio artístico e arquitetônico de Diamantina, e Wilson Baptista, um dos fundadores do Foto Clube de Minas Gerais. Baptista é autor de foto do Viaduto Santa Teresa e do Edifício Sulacap/Sulamérica que integra conjunto de recompensas exclusivas da campanha – apenas um exemplar de cada imagem é disponibilizado.
Na reta final, a campanha ganhou o reforço de músicos mineiros, como Igor Cavalera, um dos fundadores e ex-integrante da Banda Sepultura, e o guitarrista Toninho Horta, vinculado ao Clube da Esquina. Eles gravaram vídeos de apoio à iniciativa. Segundo Mariana Lacerda, a mobilização mostra como o museu faz parte da vida dos belo-horizontinos. “O fogo queimou as peças do acervo, mas não queimou as histórias. Daí a importância de recuperarmos o acervo e conseguirmos finalizar a plataforma virtual”, conta.
Para a estudante Flora Villas Carvalho, do curso de graduação em Arqueologia da UFMG e benfeitora da campanha, é importante que todos contribuam com a iniciativa, seja destinando recursos, seja divulgando a causa. “O MHNJB aproxima as pessoas da produção científica, do conhecimento e da ciência. Além disso, cuidar do Museu é um ato político. Não é a primeira vez que um museu pega fogo em nosso país. Precisamos dar visibilidade a todos os movimentos de financiamento e de luta que protegem nossos patrimônios culturais e científicos”, argumenta a estudante.
Assista ao vídeo da campanha Renasce Museu:
Assista aos vídeos de apoio gravados pelos músicos Igor Cavalera e Toninho Horta:
Com informações da UFMG