Crowdfunding arrecadou 103% da meta estipulada; MHNJB terá nove meses para planejar e implantar a plataforma virtual que reunirá informações sobre o acervo atingido por incêndio
A campanha de financiamento coletivo Renasce museu, lançada em janeiro pelo Museu de História Natural e Jardim Botânico (MHNJB), órgão suplementar ligado à Reitoria da UFMG, chegou ao fim na semana passada como um case de sucesso do crowdfunding: em menos de dois meses, foram arrecadados R$ 405,5 mil entre 1.450 benfeitores.
O valor corresponde a 103% da meta final, que era de R$ 391 mil. Contudo, há valores que ainda serão compensados; por isso, no fechamento definitivo do saldo, o montante arrecadado e o número final de benfeitores serão ainda superiores.
A campanha foi concebida para angariar recursos para a estruturação de uma plataforma virtual, pública e gratuita com informações e imagens dos acervos do Museu de História Natural e Jardim Botânico que foram atingidos pelo incêndio ocorrido no dia 15 de junho do ano passado. O valor arrecadado será usado na contratação e no treinamento da equipe que atuará com a plataforma e na aquisição de equipamentos, serviços e softwares, como o programa para documentação e gestão de acervos e seus módulos responsáveis por detalhar o registro dos acervos arqueológicos.
“Essa plataforma possibilita não só a descrição das peças e a inserção de imagens, mas também a inclusão de informações sobre os processos biológicos de conservação pelos quais essas peças estejam passando”, explica a professora Mariana Lacerda, diretora do Museu. “Assim, a partir do momento em que fizermos esse relatório de danos de cada uma das coleções, também teremos condições de inserir na plataforma os encaminhamentos necessários para cada peça.”
Segundo a diretora, esse registro sistemático dos diagnósticos vai possibilitar que se dê sequência aos processos de restauração e conservação – e descarte – de cada peça, caso a caso. “Vamos aprender a lidar com essa coleção do incêndio, inclusive no sentido de fazer uma seleção do que teremos de continuar guardando – seja em razão do seu valor científico, seja em razão do seu valor de memória – e o que será descartado”, detalha.
O êxito da campanha foi comemorado pela UFMG. Em nome do Conselho Universitário, a reitora Sandra Regina Goulart Almeida manifestou profundo agradecimento à comunidade acadêmica e à sociedade pelo apoio dado à reconstrução desse patrimônio da Universidade e da cidade.
Estratégia e narrativa
Em sua primeira etapa, até a meta de R$ 300 mil, a campanha de financiamento coletivo Renasce museu contou com o apoio do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), que aportou R$ 2 a cada R$ 1 arrecadado. Desse valor em diante, toda a arrecadação resultou da forte adesão da sociedade à campanha, apoiada pela Fundep e pela assessoria oferecida pela Benfeitoria, empresa especializada em crowdfunding que coordenou a campanha.
Essa consultoria, oferecida a todos os projetos de financiamento coletivo aprovados em programa do BNDES, tem o objetivo de aumentar o alcance das campanhas e as chances de sucesso da arrecadação. “Em reuniões semanais com os responsáveis pela iniciativa, traçamos uma metodologia de trabalho e discutimos a narrativa do projeto, ou seja, a forma de contar a história para que as pessoas entendessem o impacto coletivo”, explica Larissa Novais, gestora de projetos especiais na Benfeitoria. “O mapeamento da rede também foi muito importante. Ele ajuda a entender quem são as pessoas que podem apoiar o projeto, seja contribuindo, seja divulgando”, conta.
Na avaliação de Larissa Novais, Renasce museu foi um exemplo de iniciativa de sucesso. “Foi uma campanha muito potente, de estética muito forte, brilhante do começo ao fim: do planejamento às ações de comunicação, passando pelo trabalho com os parceiros”, ela diz, destacando a velocidade com que as metas de arrecadação foram alcançadas.
“E tudo resultou em uma conquista que vai além dos números”, acrescenta Mariana Lacerda. “O que a gente celebra aqui é esse movimento coletivo que conseguimos mobilizar em defesa do nosso patrimônio comum, que é a nossa história humana e ambiental”, avalia. “Estamos muito felizes com o êxito da campanha, com todo o apoio que o museu recebeu da UFMG e da sociedade.”
Segundo a diretora, os próximos passos estão relacionados ao planejamento e à execução do projeto. “De acordo com o edital do BNDES, temos nove meses para fazer a inserção dos dados de imagens e de informações das coleções-piloto definidas. A partir daí, daremos continuidade a essas inserções até conseguirmos cobrir todo o acervo do museu, que é muito vasto”, finaliza Mariana Lacerda.
Com informações da UFMG