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Como é ser professor em tempos de Covid-19?

Postado em Ensino e Inovação
Sistema da UFMG Virtual. Marcílio Lana / UFMG

Em meio às transformações, a Educação continua com o mesmo propósito firme de construir capital humano e desenvolver a sociedade

  
A pandemia da Covid-19 rompeu com a normalidade de todo o mundo. Atividades cotidianas foram drasticamente suspensas, repensadas e remodeladas, e isso trouxe profundas transformações na educação. Desde o início da crise, as autoridades sanitárias alertaram para os impactos que afetariam mais de 1,5 bilhão de estudantes em 160 países. Durante esse período, todo o segmento se mobilizou para encontrar alternativas e manter o funcionamento.
As universidades saíram na frente nesse quesito. A UFMG, por exemplo, implementou o Ensino Remoto Emergencial para seus 91 cursos de graduação em agosto. A medida que foi construída a partir de grupos de estudo e em diálogo com a comunidade acadêmica é inédita na história da Universidade e representa o poder de adaptação de toda a UFMG; em especial, de seus professores, cujo dia é celebrado no próximo 15 de outubro.  
Pensando nessa nova realidade, aliada às celebrações deste Dia dos Professores especial, buscamos honrar esses profissionais que não pararam, seguiram aliados aos valores da profissão e reinventaram-se em prol de toda a sociedade. 
Para isso, convidamos o presidente da Fundep e professor da UFMG, Alfredo Gontijo de Oliveira, para comentar sobre os impactos da pandemia da Covid-19 na docência e na Universidade. Professor da UFMG há 47 anos, nosso presidente expôs suas percepções e expectativas para o futuro da Educação e Ciência. 
 

Minha experiência de ser professor se tornou mais radiante à medida que eu aprendi a perceber os alunos, suas dores e necessidades”. 

 
FundepLogo celebraremos o Dia do Professor, no dia 15 de outubro, e a Educação foi compelida a reinventar-se, em escala global e de forma acelerada, devido à pandemia da Covid-19. Como você vê o papel (ou os papéis) do professor nesse momento de crise global? 
Alfredo Gontijo: Vejo o professor não como aquele que ensina, mas como aquele que torna possível que o estudante aprenda a partir dele próprio, tendo uma referência externa. Aprendizagem vem de dentro e vem de fora. Ela agrega aquela “luz interior” do brilho dos olhos dos alunos ao terem contato com novos saberes, um “mar nunca antes navegado”, e também a condensação de conhecimentos passados, uma coerência no presente e uma chave que abre a porta de vários futuros. Assim, o professor atua como uma fonte de ciência para os estudantes, deixando que eles possam saciar sua sede de sabedoria. 
A crise da pandemia expõe essa visão de uma forma clara. Estávamos acostumados, repousando em zonas de conforto do ensino presencial e com métodos engessados. O ensino remoto propiciou uma estranha inversão de abordagem, onde as práticas estão mais focadas no aprendizado dos alunos do que no ensinamento dos professores. Estamos qualificando nossos estudantes para terem habilidades para um mundo de transformações exponenciais. 
 
F: Como você enxerga todo o movimento de adaptação e renovação que está perpassando as esferas que compõem a Educação? 
AG: As transformações ocasionadas pela mudança da abordagem presencial para a remota foram rápidas e contingenciais. Passado o susto inicial, e entendendo que a pandemia não seria contabilizada em semanas, mas em anos, assistimos como essa comunidade se posicionou para atuar nesse novo cenário. Foi impressionante constatar que toda a competência necessária para fazer frente ao novo cenário já estava consolidada, em termos de conhecimento, metodologias e ferramentas. Para a Universidade, foi um pequeno passo, graças à qualidade de seu corpo docente. A transformação aconteceu ao implantar novas práticas, que trouxeram a inversão de ensinar para aprender. 
A grande consequência, em um cenário pós-pandemia, é que a Universidade poderá explorar, em sua medida, o melhor dos dois mundos: um modelo híbrido, pleno, entre atividades presenciais e remotas. Como nunca, teremos a oportunidade de explorar abordagens transdisciplinares com suas premissas de novos níveis de realidade e de complexidade, no emaranhamento entre aprendizagem presencial e remoto. Não se trata, portanto, de olhar a perspectiva do futuro somente pelo olhar do educador, mas também do pesquisador-educador. E dessa forma indissociável, temos a Fundep como órgão essencial, observando o conjunto de suas associadas e constatando como os Institutos de Ciência e Tecnologia (ICTs) estão contribuindo de forma impactante para esse futuro que vai emergir a partir da crise da pandemia. 
 
F: Como você vê o futuro das Universidades e ICTs a partir dos horizontes abertos pela crise atual? 
AG: Todo exercício de futurologia é, apenas, um exercício de futurologia. Mas vejo a possibilidade de a Universidade ampliar a quantidade e qualidade de aprendizagem dos estudantes através de processos mais contemporâneos de formação de profissionais adeptos de tecnologias mais inclusivas, sustentáveis e integrativas. Nesse cenário, teremos uma boa parte das atividades de aprendizagem sendo remotas e assíncronas. Tecnologias cada vez mais amigáveis permitirão que os estudantes trabalhem de forma integrada, criativa e transformadora. É dessa forma que a Universidade estará preparada para mitigar os efeitos e impactos de crises como a pandemia da Covid-19. 
Mas não nos iludamos, a natureza também é criativa e vai inovar na forma com que ela irá nos surpreender. Lidar com eventos como esses e sair melhores do que entramos é uma característica nossa, dos seres humanos, com a nossa fantástica consciência. Vamos lidar com outras crises e avançaremos na construção de umtranshumanidade. É nesse aspecto que as Universidades e ICTs sempre estarão atuando como os protagonistas da transformação humana. 

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