Evento Criando Valores para a Mineração promoveu reflexões para uma atuação mais sustentável, otimização de processos e melhorarias no desempenho da mineração por meio do uso de tecnologias inovadoras
Com o advento da indústria 4.0, atividades tradicionais e de base como a mineração começam a ganhar novo patamar no Brasil e no mundo. O desenvolvimento de tecnologias e projetos inovadores com, por exemplo, ciência de dados, internet das coisas, pesquisa operacional, otimização de processos, programas de aceleração e escalonamento e ferramentas e conhecimento laboratoriais dão novo fôlego ao setor mineral. Esses foram os principais temas do evento Creating Value in Mining, que conectou pesquisadores, gestores, empresários e profissionais da área, no dia 5 de novembro, integrando a programação do Finit Festival.
Realizado pela startup MiningMath (que conquistou o primeiro lugar no Concurso de Desafios Técnicos e Soluções de Mineração MineTech, na Rússia) e pela Fundep (Fundação de Desenvolvimento da Pesquisa, apoio à UFMG e outras importantes instituições de ciência, tecnologia e inovação do país), o encontro promoveu reflexões para uma atuação mais sustentável, otimização de processos e melhorias no desempenho da mineração por meio do uso de tecnologias inovadoras, como requer a indústria 4.0.
CONEXÃO ENTRE CIÊNCIA, mercado e SOCIEDADE
“O ambiente tecnológico atual, que combina tecnologia como aprendizado de máquinas (machine learning), big data e computação na nuvem, permite que se tenha uma mineração cada vez mais moderna e eficiente tanto do ponto de vista produtivo quanto dos impactos gerados ao meio ambiente e à sociedade”, comenta o especialista em Ciência da Computação, Fabrício Ceolin, cofundador da startup mineira MiningMath.
Atuando como ponte conectora do conhecimento gerado pelos pesquisadores aos segmentos da sociedade, a Fundep também fez parte da programação. A gerente de Negócios e Parcerias da Fundep, Janayna Bhering, destacou que a mineração exerce grande influência nas atividades industriais, é um potente suporte financeiro nacional, sendo responsável por quase 5% do Produto Interno Bruto (PIB) nacional e 17% do PIB industrial (dados de 2017, segundo o Instituto Brasileiro de Geograa e Estatística – IBGE). Já Minas Gerais, conforme ela, além de ser protagonista em termos de produção, possui diferenciais em termos de capital intelectual e científico.
“No evento, apresentamos mais do que as pesquisas tecnológicas ou a expertise dos pesquisadores, trouxemos cases de sucesso e futuros projetos que poderão contribuir para a continuidade da modernização do setor. Recebemos cerca de 60 pessoas representantes de empresas e 40 do meio acadêmico, todos interessados nas ações de aproximação e prospecção de negócios”, afirmou. Para ela, como o novo Marco Legal de Ciência, Tecnologia e Inovação permite e estimula as parcerias entre universidades e empresas é preciso conectar para que se conheçam os potenciais de cada um. “Nenhuma das partes consegue trabalhar sozinho. Por isso, é preciso convergir os dois para que trabalhem em conjunto em prol do setor e do desenvolvimento do País”, resumiu.
SOLUÇÕES – DA ACADEMIA PARA O SETOR
Professores do Departamento de Ciência da Computação (DCC) da UFMG apresentaram o bloco “Unidade Embrapii: sistemas ciberfísicos aplicados à Mineração”. O prof. Wagner Meira Júnior falou dos métodos, técnicas, formação e aplicações da ciência de dados no dia a dia das pessoas e das organizações. “Mais recentemente, temos observado uma automação cada vez maior baseada nos chamados algoritmos de aprendizado de máquina ou inteligência artificial, muitas vezes sob uma perspectiva essencialmente tecnológica”, disse. Ele ressaltou ainda que, ao longo do tempo, as empresas acumulam grande volume de dados, mas que a utilização dos mesmos para tomada de decisões ainda é tímida no Brasil. “Nosso objetivo é utilizar estes dados como instrumento de ações e projetos de tomadas de decisões, fazendo com que, juntos, se tornem uma vantagem competitiva e um diferencial”, armou, citando como exemplos de setores que o departamento já atua: siderurgia, telecomunicações, tecnologias e ciências de uma forma geral.
Também foi apresentado o sistema Embrapii (Empresa Brasileira de Pesquisa e Inovação industrial), unidade DCC, que atua na área Software para Sistemas Ciberfísicos. Sublinhas de atuação: Gestão da Informação; Mecanismos para Tomada de Decisão e Atuação; Prospecção e Monitoramento de Dados. “O sistema fornece oportunidade de financiamento de Pesquisa, Desenvolvimento e Inovação; riscos e custos compartilhados; maior agilidade e flexibilidade nas operações e competência tecnológica e competitividade operacional”, explica o prof. Wagner.
O prof. José Marcos Nogueira, abordou o tema Internet das Coisas: conceitos, tecnologias e soluções tecnológicas na convergência ciberfísica. Para ele, o campo da internet das coisas é uma oportunidade única para o Brasil capturar seu valor. “Mas não basta somente conectar as coisas, é preciso dotá-las do poder de processar dados, tornando-as inteligentes com a coleta, análise e geração de resultados”, alertou. Para a mineração, especialmente, Nogueira citou como exemplo a aplicação em linhas de produção com sensores que identificam o melhor momento de uma parada de manutenção ou que analisam a carga metálica de determinados minerais.
Otimização foi o tema das palestras dos professores Alexandre Salles da Cunha (DCC UFMG), que falou das oportunidades de uso de técnicas de otimização na indústria de mineração e siderurgia; e do prof. Maurício Cardoso de Souza (Departamento de Engenharia de Produção da UFMG), apresentou como a Pesquisa Operacional pode melhorar tomada de decisão em sistemas produtivos e logísticos. “Abordamos como pode-se desenvolver modelos matemáticos e métodos de otimização aderentes aos problemas reais, captando as relações essenciais entre variáveis e parâmetros para obter soluções que tragam ganhos mensuráveis quantitativamente”, explica prof. Maurício. Ainda na pauta sobre otimização, Cristiano Arbex Valle (DCC UFMG) falou sobre finanças quantitativas, gerenciamento de risco, planejamento estratégico e uso de IoT, por exemplo, para percepção de possíveis cenários futuros.
No bloco sobre as soluções para processamento de rejeitos, apresentaram pesquisadores de projetos coordenados pelo cientista e professor da UFMG Rochel Lago. Priscila Souza apresentou o Instituto Nacional de Tecnologias de Rejeitos Midas (INCT-Midas) e como é realizado suas conexões de tecnologias ambientais e o mercado. Maria Paula Duarte falou do Centro de Escalonamento e Aceleração de Tecnologias UFMG-SENAI. Lucas Ferreira contou sobre o programa MineraAll, que engloba a pré-aceleração de tecnologias para a destinação de subprodutos da mineração de ferro.
O prof. Fernando Lameiras, pesquisador do Centro de Desenvolvimento da Tecnologia Nuclear (CDTN), apresentou os projetos de sua coordenação das Redes Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Minas Gerais (Fapemig), Candonga e Plataforma, todos voltados para pesquisa e desenvolvimento de destinação de subprodutos da mineração. A mineração e os novos paradigmas foi o tema da palestra do prof. Roberto Galery, do Departamento de Engenharia de Minas da UFMG.
Para falar das ferramentas e conhecimento para mineração, o prof. Wagner Rodrigues apresentou a estrutura e expertise técnica do Centro de Microscopia da UFMG – centro multiusuário e multidisciplinar com padrão de excelência internacional que recebe pesquisadores, estudantes e empresas para atividades de pesquisa e de base tecnológica.
Nathália Radicchi, da Coordenadoria de Transferência e Inovação Tecnológica (CTIT) da UFMG, apresentou os modelos de parcerias da UFMG para C,T&I. Janayna Bhering, da Fundep, falou sobre inovação aberta e as conexões para o desenvolvimento de novos negócios.
SESSÃO INTERNACIONAL – VALORES PARA A INDÚSTRIA
O evento contou, também, com uma sessão internacional, com foco em otimização de gestão estratégica da indústria de mineração por meio da ciência de dados. Nessa discussão das formas de incluir análise de risco e eficiência nos processos de tomada de decisão, marcaram presença especialistas internacionais, como Alexey Tsoy, economista; Juan Camus, chileno PhD em engenharia de mineração; Luiz Martinez, PhD em finanças e economia de minerais; e Constantino Seixas, MSc em automação industrial.
Os profissionais, pesquisadores e gestores tiveram, também, momentos para rodadas de oportunidades e networking.
REALIZAÇÃO
Além da startup MiningMath e da Fundep, a Coordenadoria de Transferência e Inovação Tecnológica (CTIT) da UFMG também são parceiras na realização do evento: os programas SEED/MG e HUB Digital/MG da SEDECTES, e das organizações CSA Global (UK), InnovaMine (Chile), R&O Analytics (Austrália), J.Mendo Consultoria, Accenture, Consulado da Inglaterra e Irlanda do Norte, MMGerdau Museu Gerdau das Minas e do Metal, SIMI, Sistema FIEMG, Crea-MG, WeWork, Techmall e Industrial LAB.
Com informações de Mara Bianchetti – Diário do Comércio