UFABC lidera projeto financiado pela Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) e concessionária Neoenergia que busca incentivar e avaliar adoção da mobilidade elétrica
O Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC) considera a década de 2020 crucial para evitar os impactos mais severos da mudança climática. Para isso, é necessário reduzir a emissão de gases de efeito estufa (GEE), especialmente do dióxido de carbono (CO2). Os níveis devem ser reduzidos à metade até 2030 e zerados em termos líquidos até 2050.
Do contrário, a Terra chegará em 2080 com temperatura média 2,6°C a 4,1°C mais elevada. O suficiente para o desaparecimento de espécies, como os recifes de corais, ecossistemas marinhos com enorme biodiversidade, que protegem a costa. Previsões mais pessimistas, indicam que o colapso do planeta já seria perceptível em 2050.
Mobilidade elétrica
Um dos principais vilões dessa história é o carro. De acordo com o Inventário de Emissões Atmosféricas do Transporte Rodoviário de Passageiros no município de São Paulo veículos — carros, ônibus e motos — são responsáveis por 72,6% da emissão de CO2.
Por isso, a mobilidade elétrica, aos poucos, avança como um das soluções capazes de ajudar na descarbonização do mundo. No Brasil, a tecnologia é pouco acessível, mas alguns projetos visam demonstrar os ganhos ambientais, para os negócios e, por fim, democratizar o acesso.
É por essa perspectiva que a Universidade Federal do ABC (UFABC) lidera um projeto inovador. Intitulada “Corredor Verde e Postos de Carregamento Urbano para Avaliação do Desempenho de Veículos Híbridos e Elétrico”, a proposta pretende ligar seis capitais nordestinas através de uma rede de eletropostos. O caminho turístico vai de Salvador (BA) até Natal (RN), passando por Aracaju (SE), Maceió (AL), Recife (PE) e João Pessoa (PB).
Projeto com várias frentes
Além de implementar os postos, o projeto, apoiado pela Fundep, também propõe o desenvolvimento de um software para fazer o monitoramento do veículo. Ademais, o programa vai indicar para os usuários as próximas estações de recarga, entre outras informações.
De acordo com o professor Thales Sousa, coordenador do Grupo de Pesquisa em Planejamento, Operação e Regulação de Sistemas Elétricos de Potência (GPOR-SEP) da UFABC, a escolha da região se deu por ser uma área de concessão do Grupo Neoenergia, um dos financiadores do projeto, e por se tratar de uma rota turística, capaz de atrair a atenção de pessoas e empresas para a materialização da tecnologia como uma alternativa viável e com capacidade de gerar novos negócios.
“É um projeto bem grande e não estamos preocupados apenas com as estações. Estamos desenvolvendo outras soluções, como o aplicativo com toda a inteligência para acompanhar tudo que está acontecendo com o veículo. Tentamos pensar o projeto de uma forma macro. Uma outra ferramenta desenvolvida nesse escopo permite avaliar o impacto das estações na rede elétrica. Já conectamos a maioria delas. São 18 estações, sendo 12 na estrada e seis em shopping centers urbanos. A medida que elas são instaladas, o aplicativo está recebendo as conexões”, explica Sousa.
Pesquisa e desenvolvimento
O Corredor Verde é fruto do programa de Pesquisa e Desenvolvimento (P&D) da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), que lançou o projeto estratégico de mobilidade nº22. Empresas e ICTs se juntaram ao Grupo Neoenergia – um dos financiadores – para apresentar a proposta. O investimento é de R$ 19,5 milhões.
Após concluído, o percurso terá 1,2 mil quilômetros de extensão. Passando por 70 municípios, o projeto contribuirá para que milhares de pessoas possam aderir à mobilidade elétrica de forma mais sustentável.
Além do benefício ambiental, o carro movido a eletricidade tem outras vantagens. Um exemplo é a economia com gasto de combustível, na média de R$ 1.687 mensais considerando uma utilização de 150 km/dia. Esse custo cai para R$370,50 considerando a energia elétrica fornecida por concessionárias elétricas. O valor pode ainda chegar a menos de R$100 considerando o uso de energia solar. Igualmente, esses veículos evitam a poluição sonora e podem ser mais práticos, já que o motor elétrico possui menos peças e ocupa espaço menor.
SUSTENTABILIDADE
O projeto também está alinhado com os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) propostos pela Organização das Nações Unidas (ONU). Entre os 17 ODS, o projeto foca especialmente no sétimo, “Garantir acesso à energia barata, confiável, sustentável e renovável para todos”. Além de se adequar ao 13º: “Tomar medidas urgentes para combater a mudança do clima e seus impactos”.
“O Corredor Verde é uma iniciativa inovadora de estímulo à sustentabilidade. O projeto oferece à sociedade uma alternativa possível para contribuir com o combate às mudanças climáticas. Incentivar a mobilidade elétrica significa reduzir a emissão de gases de efeito estufa. Isso é feito por meio da descarbonização da frota de veículos”, declara o gerente de Pesquisa e Desenvolvimento da Neoenergia, José Brito.
APOIO FUNDEP
Segundo a analista de Projetos da Fundação de Desenvolvimento da Pesquisa (Fundep), Fabiana Bonela, o projeto também tem o objetivo de avaliar o papel das empresas do setor elétrico para o incentivo da mudança da tecnologia a combustão para o elétrico.
“Esse é um projeto muito importante para a Fundep, sendo o segundo com esse mesmo financiador, que tem uma proximidade muito grande com a execução e gestão do projeto. Isso é bom porque as correções podem ser feitas sem perda de tempo. E a Aneel tem o papel de auditar o projeto a qualquer momento, ambos contribuindo para uma gestão muito ajustada”, pontua Fabiana Bonela.
Além disso, o Corredor Verde pode ser inspirador para outros parceiros através do Programa Rota 2030. Criado pelo Governo Federal, o Rota 2030 tem como objetivo elaborar uma política industrial de longo prazo para o setor automotivo e de autopeças. E, para isso, o programa estimula o investimento e o fortalecimento das empresas brasileiras do setor.
“Essa é uma área que cresce exponencialmente. Esse projeto pode ser inspirador para toda a cadeia de parceiros. Com o Rota 2030 estamos o tempo todo de olho em editais e ICTs parceiras voltadas para essa área. Os planos de recuperação econômica pós-Covid-19 no mundo inteiro têm dedicado verbas expressivas para tecnologias responsáveis. Hoje existe a possibilidade de conseguirmos financiamentos internacionais. Já trabalhamos com alguns desses financiadores e buscamos sempre novas parcerias. Podemos trazer para o Brasil o protagonismo em tecnologias verdes, gerando novos e bons conhecimentos e negócios”, avalia a analista da Fundep.
Formação
A equipe do projeto Corredor Verde é composta por pesquisadores e profissionais de diferentes empresas e instituições, entre eles alunos de pós-graduação da UFABC. Para o doutorando José Calixto, o projeto é uma oportunidade de encarar problemas reais e propor soluções de aplicação imediata.
“Na academia, muitas vezes, as soluções que propomos visam atender à sociedade em um momento futuro. Em um projeto as soluções são aplicadas imediatamente, daí a importância dele na minha qualificação profissional. Os veículos elétricos já são vistos como uma solução no mundo inteiro. O Corredor Verde me traz a possibilidade de trabalhar de forma prática em algo que beneficia a sociedade”, completa Calixto.
FUNDEP CONECTA
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