Em meio às ações, CT Vacinas trabalha no desenvolvimento de partículas virais geneticamente modificadas para uma estratégia diferente de vacina. Fundep apoia as atividades do Centro
A corrida contra a Covid-19 continua a todo vapor em todo o mundo. No Brasil, o enfrentamento à pandemia tem se mostrado um grande desafio: atualmente, somos o segundo país com maior número de casos e mortes confirmadas, ficando atrás apenas dos Estados Unidos. Diante desse cenário de crescimento exponencial dos números de infectados e mortos, a urgência na busca pela otimização e expansão dos diagnósticos e pelo desenvolvimento de uma vacina se intensifica.
Desde as primeiras repercussões da doença no país, o Centro de Tecnologia de Vacinas (CT Vacinas) da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) tem priorizado as iniciativas voltadas ao combate à Covid-19, tais como criação de kits de diagnóstico, realização de testes e desenvolvimento de vacina. “Até o momento, foram realizados mais de dois mil exames moleculares (RT PCR) e testes em ensaios clínicos, ou seja, testes de drogas com pacientes infectados com a doença para verificar a eficácia dos medicamentos utilizados e mapear quais substâncias funcionam”, relata a professora Dra. Santuza Teixeira, coordenadora do CT Vacinas e chefe do Departamento de Bioquímica e Imunologia da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).
O CT Vacina integra a RedeVírus, comitê formado pelos Ministério da Saúde e Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovações que reúne cientistas e especialistas para o desenvolvimento de diagnósticos, tratamentos, vacinas e produção de conhecimento sobre o vírus. A iniciativa também vem conquistando avanços importantes, principalmente em relação aos testes diagnósticos e à produção em maior escala de um kit sorológico capaz de detectar a presença de anticorpos tanto em pessoas que foram infectadas pelo vírus e tiveram a doença, quanto em pessoas que foram expostas ao novo coronavírus e ficaram assintomáticas, mas desenvolveram algum tipo de resposta imune contra a infecção. “Esse foi o principal resultado da RedeVírus até agora. O projeto está entrando em uma nova fase, com o apoio de uma parceria com o Instituto Bio-Manguinhos, do Rio de Janeiro, focado em ampliar o número de testes para validação do novo kit de diagnóstico sorológico, denominado Elisa, e também aumentar a escala de produção para que ele possa ser distribuído em todo o país”, anuncia a professora.
A RedeVírus também está trabalhando no desenvolvimento do kit de teste molecular, que detecta a presença da doença logo nos primeiros dias de infecção. Considerado a ‘referência padrão’, o exame é realizado por meio de uma espécie de cotonete que é passada nas narinas e garganta do indivíduo e não requer estrutura laboratorial sofisticada, o que facilita sua aplicação em larga escala.
Desenvolvimento da vacina brasileira
Em paralelo aos avanços em teste diagnóstico, pesquisadores de todo o mundo seguem na corrida para a criação da vacina contra a Covid-19. Santuza Teixeira relata que existem alguns esforços que estão sendo direcionados para o Brasil, visto que somos atualmente o país com o maior pico de contágio do novo coronavírus. “O laboratório chinês Sinovar estabeleceu uma parceria com o Instituto Butantã para a produção da vacina. É uma vacina feita com o próprio vírus Sars-CoV-2, que é inativado em laboratório. Trata-se de um ensaio clínico de fase três, ou seja, a população vai ser testada. A vacina tem mostrado resultados muito promissores, contudo é difícil de ser produzida, pois requer o cultivo do vírus em condições de segurança para que em seguida ele possa ser inativado e usado para proteção dos indivíduos.”
Os protocolos de vacina que estão sendo desenvolvidos na UFMG em parceria com a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) também seguem avançando. A preparação do material da amostra de vírus que será utilizada nesses protocolos tem alcançado resultados promissores. Sobre esse trabalho, Santuza Teixeira conta que “o CT Vacinas, de forma ágil e concentrada, tem trabalhado no desenvolvimento de partículas virais geneticamente modificadas que serão utilizadas como uma estratégia diferente para tentar desenvolver a vacina”. Ela explica que a construção de diversas estratégias é importante por dois motivos: “primeiro porque não sabemos quais delas vão resultar em maior eficácia de proteção, e segundo porque ainda precisamos descobrir quais são os tipos de vacina que teremos capacidade de produzir em larga escala”. Sobre a evolução do processo de testes, a previsão é que a partir de julho, o CT Vacinas inicie os estudos em animais para confirmar se as partículas virais que o ser humano produz serão capazes de induzir uma resposta imune protetora contra o novo coronavírus.
Ampliação da estrutura e continuidade das atividades
Visando ampliar e acelerar a atuação em prol da sociedade, o CT Vacinas passará por mudanças estruturais. A expansão da capacidade laboratorial do Centro, além de auxiliar no aumento da capacidade de serviços diagnósticos e desenvolvimento da vacina contra a Covid-19, vai permitir que os pesquisadores retomem pesquisas relacionadas a outras doenças. “Projetos de pesquisa, principalmente sobre Leishmaniose, Doença de Chagas, Malária, Dengue, Zika, Chikungunya e doenças causadas pelo vírus da Hepatite, vinham sendo desenvolvidas desde 2016, mas foram suspensas devido ao controle do número de profissionais no laboratório e à necessidade de direcionar nossos esforços aos estudos sobre a Covid-19. Com a ampliação do laboratório, nós conseguiremos retomar alguns desses projetos que também são importantes, possuem certa urgência, mas não puderam ser continuados durante esse período”, finaliza Santuza.
O CT Vacinas
O Centro foi criado para estabelecer um ambiente de pesquisa adequado para o desenvolvimento e inovação tecnológica capaz de gerar produtos e conhecimentos relativos à área de vacinas e diagnóstico para doenças humanas e veterinárias, bem como produzir insumos e oferecer a prestação de serviços para pesquisa científicas e biotecnológicas. Inaugurado em 2016, o CT Vacinas conta com laboratórios com infraestrutura para cultivo celular, cultura de bactérias, purificação e análise de proteínas recombinantes, manipulação e análise de DNA e RNA.