O enfrentamento ao novo coronavírus (Covid-19) é um desafio global está exigindo de todos o compromisso com a saúde pública. Diante do avanço exponencial da curva de contágio no mundo, incluindo no Brasil, e o comportamento já observado do agente, torna-se uma prioridade estratégica acelerar e otimizar o diagnóstico da infecção para contribuir com o controle da pandemia.
Em Minas Gerais, os exames estão concentrados na Fundação Ezequiel Dias (Funed), que, desde 12/03, passou a processar todas as amostras suspeitas do estado, reduzindo o prazo dos resultados e diminuindo custos, uma vez que as amostras eram encaminhadas à Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), no Rio de Janeiro.
De acordo com a Funed, no relatório publicado em 22/03, foram notificados 7.273 casos de infecção humana pelo COVID-19, em 12 municípios de Minas Gerais. Destes casos, 7.190 estão em investigação como suspeitos e 83 casos foram confirmados.
Apoio da comunidade científica à linha de diagnósticos
Frente ao alto volume, à crescente demanda e à necessidade da celeridade de resposta, pesquisadores da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) estão dialogando sobre medidas emergenciais para contribuir com o atendimento à sociedade, além da contenção da propagação do vírus, e se mobilizando para oferecer apoio na realização dos testes.
Para planejar a ação e articular o grupo de trabalho nesta força-tarefa, reuniram-se, na última quarta-feira (19/03), o prof. Flávio Fonseca, virologista e cientista integrante do Centro de Tecnologia de Vacinas (CT Vacinas/UFMG); prof. Mario Fernando Montenegro Campos, e mais de 50 pesquisadores da Universidade, via chamada de vídeo, que demonstraram interesse em oferecer alguma forma de suporte no diagnóstico.
Segundo estudo publicado na revista ‘Science’, a demora inicial em diagnósticos foi um fator que facilitou o desencadeamento da disseminação geográfica do vírus na China. Apenas 14% dos pacientes infectados foram identificados entre 10 e 23/01. Com sintomas leves ou assintomáticos, essas pessoas circularam normalmente e viajaram pelo país e, com a exposição, foram a fonte de contaminação de 79% dos casos confirmados, segundo estimativa publicada por cientistas.
“Para o apoio com diagnósticos auxiliares, criamos, na UFMG, uma comissão e vamos estruturar a atuação deste grupo. Nosso objetivo é oferecer suporte científico para contribuir com a ampliação da eficácia dos exames, potencializando a frente de diagnósticos”, conta o prof. Flávio Fonseca.
O CT Vacinas é referência nacional no desenvolvimento de produção de kits de diagnóstico e vacinas contra doenças humanas e veterinárias. Com equipe composta por pesquisadores referências da UFMG e do Instituto René Rachou da Fiocruz-Minas, o CT se localiza no Parque Tecnológico de Belo Horizonte (BH-TEC). Desde janeiro, o Centro está trabalhando em inovações e formas de otimizar o diagnóstico da infecção. “O Centro já está preparado e tem capacidade de apoiar neste desafio do diagnóstico imediatamente”, revela o pesquisador Flávio.
Nesta semana, o CT Vacinas recebeu 1ml de amostra do Sars-Cov-2, como é chamado oficialmente este coronavírus, inativado (ou seja, morto), que será utilizado como controle para as respostas positivas nas reações de diagnóstico molecular. “Vamos utilizar as moléculas do próprio vírus como um controle positivo no mecanismo do diagnóstico molecular, que aponta o diagnóstico positivo ou negativo para o coronavírus”, diz Flávio.
Segundo o pesquisador, está na pauta a vacina contra este agente. “Mas, prioritariamente, devido à urgência, estamos desenvolvendo testes em laboratório, com finalidade de transferência para grandes indústrias com capacidade de produção em larga escala e consequente entrega para a população”.
Cientistas mineiros convocados
O virologista Flávio Fonseca integra a Rede Vírus, grupo de pesquisadores convocado pelo pelos Ministérios da Saúde (MS) e da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações (MCTIC) para compor uma frente de pesquisas sobre o novo coronavírus. Também estão entre os convocados outros renomados pesquisadores da UFMG, como Mauro Martins Teixeira (do Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia – INCT – Dengue), Santuza Teixeira, Ricardo Gazzinelli e Ana Paula Fernandes, também integrantes do CT Vacinas, que é a representante do CT Vacinas nessa estratégia governamental de enfrentamento. Pesquisadores de outras instituições brasileiras, como a Universidade de São Paulo (USP) e a Sociedade Brasileira de Virologia, também estão envolvidos na estratégia do governo federal.