Fonte: Paola Carvalho, jornalista do caderno de Economia, do Jornal Estado de Minas
O BiotechTown, inaugurado na última quinta (05/07) no Alphaville Lagoa dos Ingleses, em Nova Lima, quer transformar biotecnologia em bionegócios. É uma parceria entre a Fundação de Desenvolvimento da Pesquisa (Fundep) e sua agência de inovação, a Fundep Participações (Fundepar), e a Companhia de Desenvolvimento de Minas Gerais (Codemge). Também são apoiadores, a Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), a Associação Nacional de Empresas de Biotecnologia (Anbiotec), e o projeto CSul – Desenvolvimento Urbano. Confira abaixo entrevista com o CEO do BiotechTown, Pedro Vidigal.
Paola Carvalho – Qual a sua trajetória e como os seus propósitos se conectaram com o BiotechTown?
Pedro Vidigal – Sou médico, especialista em medicina laboratorial – essa é uma especialidade médica que lida muito com tecnologia e inovação. Atuei como diretor de Pesquisa e Desenvolvimento de uma grande empresa de diagnóstico in vitro e, posteriormente, como professor e pesquisador, atuei em cargos de gestão da inovação e empreendedorismo na UFMG. Participei da criação e coordenação do programa de aceleração de startups em estágio inicial, o Lemonade, que já foi reconhecido como um dos principais programas de aceleração do Brasil, entre os 20 maiores do mundo. O BiotechTown é totalmente alinhado com a minha trajetória profissional. Além disso, é um projeto desafiador e, ao mesmo tempo, inovador com um grande potencial de impactar a sociedade e a economia de Minas Gerais e do Brasil.
Como surgiu a ideia do BiotechTown e como foi essa jornada até a inauguração?
Desde o seu início, a Fundepar, Empresa de Participações da Fundep (Fundação de Desenvolvimento da Pesquisa), buscava formas de investir em empresas de base biotecnológica oriundas da academia. Essa demanda vinha do fato de que um número significativo de propostas que se apresentavam para a Fundepar era de projetos desenvolvidos nessa área. Entretanto, empresas das áreas de Biotecnologia e Ciências da Vida exigem grandes volumes de recursos, boa parte imobilizados em infraestrutura laboratorial e produtiva. Assim, há cerca de dois anos, com o alinhamento de interesses, a Codemge e Fundepar iniciaram a construção de um empreendimento que tinha, desde a concepção, o objetivo de apoiar e possibilitar o crescimento das empresas de Biotecnologia e Ciências da Vida, minimizando os riscos inerentes aos processos de gestão, tecnologia e produção, o qual denominamos BiotechTown.
Por que o Alphaville foi escolhido? Qual é a importância dessa localização?
A região da Lagoa dos Ingleses está se destacando por concentrar e catalisar novos empreendimentos e negócios de Biotecnologia e Ciências da Vida, reforçando Minas Gerais como o segundo principal cluster brasileiro da área. Também destaco a disposição da Prefeitura de Nova Lima de criar a Zona Limpa de Desenvolvimento (ZLD), nesta região, visando potencializar esse polo de biotecnologia. Outro motivador fundamental foi o apoio da CSul Desenvolvimento Urbano, que nos apresentou um espaço praticamente pronto que atendia às nossas primeiras necessidades – o Business Developer, ambiente para aplicarmos metodologia customizada de desenvolvimento de empresas nascentes, com investimentos financeiros para expandir e escalar negócios. O local ainda nos permitirá viabilizar as outras duas unidades – o OpenLab e o CMO, que vão oferecer infraestrutura laboratorial, equipamentos e profissionais para atender as demandas empresariais para o desenvolvimento rápido de produtos.
Dentro da biotecnologia e ciências da vida, quais serão as áreas de atuação?
A Biotecnologia é um conjunto de técnicas que explora processos biológicos para desenvolver tecnologias e produtos que geram benefícios em diversas áreas, como saúde (humana e animal), meio ambiente, agricultura, energia e infraestrutura. Temos, ainda, as tecnologias relacionadas aos dispositivos médicos e a health tech.
Quais são os três principais gaps a serem solucionados ali?
O BiotechTown se propõe a trazer soluções para os gaps existentes no setor, a fim de impulsionar o desenvolvimento de bionegócios, minimizando os riscos inerentes aos processos gestão, tecnologia e produção. Dentre eles destacam o desenvolvimento final dos produtos, questões relacionadas aos assuntos regulatórios e as estratégias de entrada no mercado, seja do produto ou da empresa.
A expectativa é que o BiotechTown possa “arrastar” outras iniciativas. Existe uma estratégia para que isso ocorra? Ou é algo que emergeria organicamente?
O BiotechTown, por si só, já será um atrativo para outras iniciativas. Ele certamente agregará outras empresas no seu entorno de forma orgânica. Acreditamos que empresas que passarem pelo programa de desenvolvimento de negócios do BiotechTown, e forem bem-sucedidas, tenderão a se instalar no entorno, ainda mais se considerarmos os benefícios de conexão, trocas de experiência e de conhecimento.
De quanto foi o investimento até o momento? E qual é o aporte previsto para todo o período?
Até momento, foram investidos cerca de R$ 5 milhões. O aporte total do será de R$ 35 milhões.
São três frentes de atuação, em uma área de 2.100 m2, com datas diferentes de implantação. Como é esse cronograma?
O Business Developer foi inaugurado no dia 5 de julho, com o lançamento da chamada para a seleção de empresas para o programa de desenvolvimento de negócios. O Open Lab e CMO estão previstos para lançamento no segundo semestre de 2019, pois estamos no processo final da planta e vamos submeter para os órgãos de vigilância sanitária.
E os próximos passos já?
Lançamos a chamada para o programa de desenvolvimento de negócios do BiotechTown. Paralelamente, estamos estabelecendo parcerias com instituições de ensino e pesquisa e pretendemos, também, captar novos investimentos, tanto para as empresas a serem desenvolvidas, quanto para o BiotechTown.
Israel tem um ecossistema com cerca de 5.000 startups, sendo 1.500 biotechs. O que o Brasil precisa para trilhar um caminho como esse?
Consolidar a cultura de empreendedorismo no país e aumentar o investimento, especialmente, de recurso privado em inovação. Temos bons profissionais, boas universidades, bons centros de pesquisa. Entretanto, ciência, tecnologia e inovação têm que se tornar a prioridade de todos, governo, empresas e cidadãos.
Ainda sobre Israel, que é uma referência para o BiotechTown, a maior parte dos investimentos no setor é externa. Como é o cenário brasileiro? Como será a atuação do BiotechTown nesse sentido?
Diferente de outros países como Israel e Coréia do Sul, o maior volume de investimento em pesquisa, desenvolvimento e inovação no Brasil vem do setor público. O investimento do setor privado representa menos de 50% do valor total. Estamos buscando investidores que queiram caminhar junto com o BiotechTown. A estrutura e recursos oferecidos pelo BiotechTown encurtarão o tempo de desenvolvimento dos produtos e sua chegada ao mercado, reduzindo o risco do investimento realizado nas empresas. Os investidores poderão investir nas empresas do programa de desenvolvimento de negócios e o empreendimento BiotechTown também está aberto a receber investimentos.
Muitas pessoas repetem uma máxima: “o futuro já chegou”. Como você traduziria essa expressão a partir do que será o BiotechTown?
Estruturas como a do BiotechTown já existem em outros países, fazendo com biotecnologias inovadoras sejam desenvolvidas e beneficiem a sociedade. Portanto, o futuro está batendo a nossa porta, precisamos trabalhar muito a partir de agora para que o BiotechTown cumpra com sua missão. O BiotechTown pretende ser um ponto de encontro do ecossistema de inovação em biotecnologia e ciências da vida. Está aberto a todos empreendedores, pesquisadores, empresários e investidores. Afinal, inovação se faz com interação, trocas e conexão.
Fonte: Paola Carvalho, jornalista do caderno de Economia, do Jornal Estado de Minas