Excelência de instituições de pesquisa contribui para implantação da fábrica de veículos elétricos e baterias da Bravo Motor Company no Estado
Esforços conjuntos de diferentes atores em Minas Gerais e um ecossistema robusto de pesquisa e inovação ajudaram a atrair para o Estado a Bravo Motor Company, empresa sediada na Califórnia (EUA), e que tem foco na produção de baterias e veículos elétricos. Em março, o Governo de Minas e a companhia assinaram um protocolo de intenções que prevê a implantação de uma fábrica de veículos movidos a energia elétrica e de fabricação de packs de bateria, com investimento estimado em R$ 25 bilhões na primeira fase do projeto, aporte que será investido até o final de 2029.
No processo de negociação para atrair o grupo Bravo Motor Company, Minas Gerais tinha a concorrência com outros dois estados. O ponto de atratividade para o grupo estrangeiro foi a presença de pesquisa, desenvolvimento e capacitação de qualidade oferecida pela UFMG e o know-how em gestão da Fundep, que, juntas, propiciam a criação de um ecossistema favorável ao investimento da empresa.
Segundo a gerente de negócios e parcerias da Fundep, Janayna Bhering, toda a estrutura científica e de pesquisa disponível sobre mobilidade influiu positivamente na decisão. “Apresentamos oportunidades de parceria para o desenvolvimento, com os laboratórios da UFMG, principalmente. Eles viram o grande potencial que havia dentro das linhas temáticas que eles buscavam”, explica, ressaltando também o papel central da Fundep na Comissão de Ciência e Tecnologia (CC&T) da Plataforma Nacional de Mobilidade Elétrica (PNME) e também gestão relevante das linhas IV e V do Programa Rota 2030, do governo federal, e que trabalha no desenvolvimento do setor automotivo.
Na lista de atrativos que levaram ao investimento da companhia no Estado está também a oferta de insumos necessários para produção de baterias e o vislumbre de um mercado consumidor robusto. O diretor de atração de investimentos da Agência de Promoção de Investimentos e Comércio Exterior de Minas Gerais (INDI), Ronaldo Alexandre Barquette, detalha o cenário que considera favorável à implantação de projetos de mobilidade elétrica.
“Nós temos desde a mineração aos componentes da parte técnica dos veículos, e, também, energia solar para poder alimentar eletropostos. Somos o Estado com o segundo maior número de empresas de autopeças. Hoje, fornecemos para o setor de combustão, mas podemos trabalhar para fornecer também para essa cadeia do setor de mobilidade elétrica”, diz. Barquette sustenta ainda que já existem articulações com o governo para reduzir o Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS) para empresas que atuem de maneira acoplada à Bravo, para estimular novos negócios no mesmo setor.
O CEO da Bravo Motor Company Brasil, Eduardo Javier Muñoz, vê perspectivas de o grupo fornecer tecnologia para o processo de eletrificação da indústria automotiva nacional. Além disso, cita a existência de recursos naturais “fundamentais” para o futuro do negócio, como o lítio e nióbio.
“Encontramos em Minas um ecossistema tecnológico de alto nível com muitas universidades e centros de pesquisa, além do apoio ao desenvolvimento de novas tecnologias como o disponível com a Fundep e, em nosso caso, com o programa Rota 2030. A UFMG transformou-se quase que de imediato em uma parceira importante e já assinamos um acordo para o desenvolvimento de uma pesquisa junto ao CT Nano (Centro de Tecnologia em Nanomateriais e Grafeno da UFMG) no setor de materiais para baterias no qual temos grandes expectativas”, afirmou.
Integrante do grupo que trabalha no Rota 2030, o professor Braz Cardoso Filho, do Departamento de Engenharia Elétrica da UFMG, vê como possível o desenvolvimento de uma cadeia de negócios a partir da chegada da Bravo a Minas Gerais. “Esta iniciativa certamente movimentará empreendedores formando uma cadeia de suprimentos para atender este tipo de indústria. Uma vez formada a cadeia de suprimentos, certamente outras empresas fabricantes de veículos elétricos e baterias identificarão este diferencial no estado”, projeta.
Além da experiência de anos trabalhando com o setor automotivo, o professor Braz Filho cita números que ajudam a delinear o cenário positivo para Minas Gerais e para quem investe na energia elétrica desde agora. “No mundo, as previsões indicam um aumento da frota eletrificada de cerca de 2 milhões de veículos para 56 milhões em 20 anos. O número de veículos eletrificados será maior do que o número de veículos à combustão. Pode-se afirmar com segurança que a eletrificação veicular é mais que uma tendência, é uma decisão já tomada pela indústria automobilística”, reforça.
A perspectiva da Bravo Motor Company é iniciar a implantação da fábrica de veículos em Minas Gerais em junho deste ano, e a operação em 2023. A produção estimada no ano seguinte é de quase 23 mil veículos e 44 mil packs de baterias. A previsão é de que quase 14 mil empregos – diretos e indiretos – sejam criados por meio do investimento de R$ 25 bilhões.
Ainda não há definição precisa sobre o local de implantação da fábrica da Bravo Motor Company, mas ela deverá ser instalada na região metropolitana de Belo Horizonte. Enquanto isso, a empresa receberá assessoramento e vai utilizar serviços do Parque Tecnológico de Belo Horizonte (BH-TEC). Ela será a primeira companhia a integrar o projeto Parque Aberto BH-TEC: uma plataforma de gestão do conhecimento, prestação de serviços, negócios e networking para empresas de ciência, tecnologia e inovação. A companhia terá acesso a rodadas de negócios, eventos e parcerias já existentes no parque que fica na região da Pampulha, em Belo Horizonte, próximo à UFMG.
O futuro do setor
Dados da Associação Brasileira do Veículo Elétrico (ABVE) mostram que há, em todo o país, cerca de 500 eletropostos, entre públicos e semipúblicos, e o crescimento das vendas tem sido constante. Entre 2019 e 2020 houve crescimento de 66% nas aquisições de veículos híbridos ou totalmente elétricos. Atualmente, eles são cerca de 42 mil unidades no Brasil, com a expectativa da ABVE de dobrar esse número a cada dois anos. Em 2019 foram emplacados 11.858 veículos, no ano passado, 19.745 veículos, atingindo cerca de 1% do mercado total de veículos no país.