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Hoje e sempre: o papel fundamental do professor na sociedade

Postado em Ensino e Inovação
Programa 1000 Futuros Cientistas no Dep. de Química da UFMG. FOCA LISBOA UFMG

No Dia do Professor, Sandra Goulart Almeida, reitora da UFMG, ressalta a importância do papel social da Universidade e de seu corpo docente no atual contexto de transformações e na construção de um futuro melhor

 
Com a pandemia da Covid-19, a transformação dos modos de vida da sociedade está acontecendo de forma ainda mais acelerada, envolvendo a adoção de novas técnicas e movimentando as esferas de ensino em todo o mundo.
No dia 15 de outubro, celebramos o Dia do Professor, que tem a responsabilidade de assegurar que os valores-pilares da Universidade sejam cumpridos, especialmente no que tange o ensino de qualidade, a formação de pessoas e a pesquisa de excelência.
Convidamos a reitora da UFMG, Sandra Goulart Almeida, para refletir sobre o panorama complexo ocasionado pela pandemia e como a Universidade mantém seu papel social nas ações de ensino, pesquisa e extensão. 
 
Covid-19, transformação digital e o papel da Universidade 
“Essa é uma questão mais complexa do que parece a primeira vista. Se, por um lado, podemos afirmar que a transformação digital está acontecendo de forma mais acelerada e movimentando a reflexão em todas as esferas de ensino; por outro, é preciso cuidado com essa interpretação porque  ela dá conta de perceber apenas parte do que está acontecendo. Transformação, na minha avaliação, precisa levar em consideração não apenas a qualidade, mas também a equidade e a inclusão. E não é o que estamos vendo. Estamos, mesmo antes da covid-19, presenciando uma expansão de inúmeras possibilidades e oportunidades mediadas pelas tecnologias de informação e comunicação, mas neste momento o que ocorre é um processo de adaptação à uma realidade determinada por uma pandemia, pelo isolamento social como forma de prevenção e o uso dessas tecnologias tornou-se uma maneira de tentarmos dar prosseguimento às nossas necessidades e demandas. Mas não dá para esquecer que cerca de 25% da população brasileira ainda não acessa regularmente a Internet [dados do Comitê Gestor da Internet no Brasil, de maio deste ano]. São aproximadamente 47 milhões de pessoas, das classes D e E, que estão excluídas do mundo digital. Não podemos confundir o uso de aplicativos de mensagens com acesso à Internet e suas potencialidades. No caso da UFMG, a oferta do ensino remoto emergencial é como um suplemento, que nunca será como o ensino presencial, mas foi a maneira que encontramos para, neste momento de excepcionalidade, fortalecer os vínculos com os estudantes, retomar as atividades de forma gradual e combater a exclusão e a desigualdade digital por meio de uma política de inclusão digital que demandou muito esforço e recursos da Universidade. O perfil do corpo discente mudou completamente e é fundamental que a universidade pública promova a inclusão digital, entre tantas outras formas de inclusão. De acordo com o estudo elaborado pela pró-reitoria de Graduação, que observou os dados de 2008 a 2018, o percentual de estudantes autodeclarados negros dobrou em 10 anos (em 2008 representavam 26,75% e em 2018 chegaram a 49,3%) e a entrada de alunos cuja renda familiar é de um a dois salários mínimos também elevou-se. Em 2014, esses estudantes correspondiam a 11,4% do total, e, em 2018, a 18,2%. Além disso, o estudo também indicou que um terço dos alunos da UFMG tem renda familiar de dois a cinco salários mínimos, compondo a categoria socioeconômica mais frequente. Então, é papel da UFMG assegurar condições de acesso à internet e a equipamentos a uma parcela importante de nossa comunidade discente. Por isso, lançamos chamadas e apoiamos com recursos financeiros medidas para que mais de cinco mil estudantes tivessem acesso a computadores, internet e tecnologias assistivas, no caso dos estudantes com deficiência. E ainda realizamos cursos e atividades formativas para mais de 3 mil professores.  Estamos diante de uma oportunidade, por exemplo, de rever nossos métodos de ensino-aprendizagem. Fala-se há muito tempo do estímulo a uma postura mais ativa do estudante, de mais protagonismo, e essa é uma oportunidade para colocarmos em prática, de forma mais ampliada, esta reflexão. O professor é e sempre será fundamental na educação. A UFMG que hoje enfrenta a covid-19 é a mesma Universidade de antes da pandemia, que cumpre seu papel fundamental de atender os anseios da sociedade. Somos uma instituição em movimento, que se destaca pelas ações de ensino, pesquisa e de extensão – dimensão fundamental e que não pode ser esquecida – e uma universidade que se destaca por ser inovadora no que faz.”  
 

“O professor é e sempre será fundamental na educação.”

 

 
A continuidade das atividades da UFMG e o protagonismo da ciência no contexto da pandemia 
“A UFMG que se mostra ativa no enfrentamento da covid-19 é a mesma UFMG de antes da pandemia, ciente de seu importante papel social.  Estamos diante de uma crise sem precedentes na humanidade, com mais de 1 milhão de mortos em todo o mundo. Neste cenário, a ciência ganhou protagonismo. É possível perceber que a visão das pessoas sobre a ciência e as universidades está mudando, e a crise deixou ainda mais clara a necessidade do investimento sustentável em educação, ciência e tecnologia. Estamos diante de um momento histórico complexo, de muita polarização. Enfrentamos um movimento, protagonizado por certos grupos ideológicos, em várias partes do mundo, de negação do conhecimento científico e de questões ligadas, por exemplo, ao meio ambiente, à saúde, como a mobilização antivacinas. Essa postura é, sem dúvida, muito preocupante. Por outro lado, há dados que nos informam que a maioria da população do Brasil tem uma percepção muito positiva da ciência. Refiro-me à pesquisa que analisou a percepção pública da ciência e da tecnologia, estudo realizado em 2019 pelo CGE [Centro de Gestão e Estudos Estratégicos], ligado ao MCTIC, com participação de pesquisadores da UFMG. Essa pesquisa revelou que 73% dos entrevistados avaliam que a ciência traz benefícios, 60% deles têm interesse na ciência e 90% defendem mais investimentos em educação. A UFMG tem produzido nos últimos meses intensa pesquisa em diversas áreas para combater a covid-19 e atenuar suas consequências, assim como se dedica ao esforço de comunicação com a sociedade, em diferentes aspectos da pandemia, e em ações de extensão para mitigar o sofrimento das populações mais vulneráveis. Neste momento, o mais importante é preservar vidas e atender as demandas da sociedade no enfrentamento da Covid-19 – é essa a razão que movimenta a UFMG.” 
 
UFMG: 93 anos de história rumo ao futuro
“Classificada, pela sexta vez consecutiva, como a universidade com o melhor ensino do país, pelo ranking nacional RUF (Ranking Universitário Folha de S.Paulo), a melhor universidade federal do país e a quinta melhor universidade da América Latina pelo renomado ranking da Times Higher Education e entre as três melhores universidades federais brasileiras, segundo o ranking de Shanghai, a UFMG recebeu ainda o Prêmio Universidade Empreendedora, considerada a instituição federal mais empreendedora, além de ser destaque, ao longo de muitos anos, no registro de patentes pelo INPI. Aos 93 anos, somos uma jovem universidade para os padrões internacionais, mas somos uma das mais antigas no Brasil. Somos uma instituição sólida, de qualidade e relevância, inclusiva e que promove a equidade. Ampliamos muito nossa estrutura de ensino, tanto na graduação quanto na pós-graduação, de pesquisa e de extensão, bem como nosso impacto regional e nacional nos últimos anos, estamos cada vez melhores e mais inclusivos. Mas como instituição universitária pública, temos várias preocupações. Apesar de toda a qualidade, relevância e impacto regional e do destaque obtido pela Instituição, em âmbito nacional e internacional, nas ações de ensino, pesquisa e extensão, a UFMG, assim como as demais instituições federais de ensino superior, sofre com as consequências do contingenciamento orçamentário dos últimos anos e com a previsão de corte orçamentário drástico – da ordem de 16,5% – para 2021. É com profunda preocupação que vivenciamos igualmente um corte expressivo de verba para pesquisa nas agências de fomento, como a Fapemig, o CNPq e a Capes. É imprescindível destacar que, no Brasil, as universidades públicas são responsáveis por 95% da pesquisa científica e que os cortes em investimento em educação, ciência e tecnologia impactam de forma decisiva o desenvolvimento regional e do país. Ao efetuar cortes tão substanciais na educação superior, na ciência, na cultura e na tecnologia, o país abre mão de um patrimônio inigualável de seu povo – patrimônio esse que precisa ser preservado como uma política de Estado para que possamos enfrentar momentos de crise como o atual e para que possamos fazer deste país um lugar mais digno e melhor para se viver. O caminho que temos pela frente não está livre de percalços. Mas  como nos convida a refletir Cora Coralina, escritora que citei no artigo comemorativo aos 93 anos da UFMG que escrevi e foi publicado no portal UFMG: “É que tem mais chão nos meus olhos do que cansaço nas minhas pernas, mais esperança nos meus passos do que tristeza nos meus ombros, mais estrada no meu coração do que medo na minha cabeça”. É, por isso, seguindo os dizeres de Cora Coralina, que podemos afirmar, com altivez, que cabe a nós, como Universidade viva, prosseguir na honrosa tarefa que nos foi delegada pelo povo brasileiro.” 
 

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