No intuito de reconhecer e homenagear as melhores teses desenvolvidas na UFMG, a Universidade realiza, anualmente, o Prêmio UFMG de Teses que, nesta edição, contemplou 46 trabalhos de doutorado defendidos em 2012. Entre as pesquisas agraciadas, três receberam destaque ainda maior e conquistaram o Grande Prêmio UFMG de Teses 2013, uma em cada grande área do conhecimento: Ciências Agrárias, Ciências Biológicas e Ciências da Saúde; Ciências Exatas e da Terra e Engenharias; e Ciências Humanas, Ciências Sociais Aplicadas e Linguística, Letras e Artes.
Em solenidade promovida em outubro, os autores das melhores teses defendidas em 2012 receberam medalhas e diplomas. Como parte da premiação, a Fundep agraciou os pesquisadores ganhadores com um laptop. Eles compareceram à Fundação no dia 27 de novembro para receber os computadores, que foram entregues pelo presidente, professor Marco Aurélio Crocco Afonso.
“Essa premiação consiste em homenagem a um bom trabalho e à excelência dos pesquisadores. O prestígio dos estudos reflete um resultado que é fundamental para a Fundep: a realização de pesquisas e, consequentemente, a geração de conhecimento. Assim, o reconhecimento das teses é, ainda, uma forma de validarmos a nossa missão de oferecer apoio à UFMG no desempenho de suas atividades de ensino, pesquisa e extensão”, afirma o professor Crocco.
Os distintos em 2013
Ana Paula Moreira Barboza, autora da tese “Propriedades eletromecânicas de nanoestruturas por Microscopia de Varredura por Sonda”, foi a vencedora na área de Ciências Exatas e da Terra e Engenharias. Segundo ela, o trabalho utilizou as técnicas que permitem visualizar estruturas muito pequenas por meio da sonda, que tateia a superfície do material gerando as informações. “É como se fosse uma pessoa com olhos fechados apalpando uma superfície”, explica. Com a tese, a pesquisadora propõe nova maneira de utilizar o microscópio: “percebemos que é possível não somente caracterizar morfologicamente uma superfície, mas também manipular as propriedades eletromecânicas de nanomateriais”. O trabalho utilizou materiais como grafeno, nanotubo de carbono, entre outros. Ana Paula conta que ficou surpresa pelo reconhecimento, visto que há tantos trabalhos de qualidade na Universidade, e atribui a conquista do prêmio à interação com várias áreas.
A multidisciplinaridade também foi citada como um fator de destaque para o reconhecimento da pesquisa de Marília de Oliveira Scliar. Ela foi a vencedora na área de Ciências Agrárias, Ciências Biológicas e Ciências da Saúde com a tese ?Genética de populações e inferências estatísticas sobre a história demográfica de populações nativas sul-americanas?. De acordo com Marília, o trabalho constatou semelhanças genéticas entre dois grupos indígenas que habitam os Andes peruanos e a Selva Alta, região de transição entre a Amazônia e os Andes. “Fizemos a coleta do material genético dos representantes das duas etnias, o DNA dos indivíduos foi ressequenciado e assim conseguimos fazer várias inferências históricas. Descobrimos que as duas populações se separaram somente há cinco mil anos. E esse tempo é muito recente, se considerarmos a idade do povoamento da América, que ocorreu há aproximadamente 15 mil anos, e o grande desenvolvimento cultural dos povos que nessa época já habitavam essas regiões”, conta. Segundo ela, essa descoberta permite concluir que populações tão diferenciadas culturalmente podem ter uma relação genética estreita e a pesquisa pode ajudar, ainda, a esclarecer como se deu o povoamento da América do Sul.
Com o trabalho “Responsabilização por graves violações de Direitos Humanos na ditadura de 1964-1985: a necessária superação da decisão do Supremo Tribunal Federal na ADPF n°153/DF pelo Direito Internacional dos Direitos Humanos”, Emilio Peluso Neder Meyer foi o vencedor na área de Ciências Humanas, Ciências Sociais e Aplicadas e Linguística, Letras e Artes. A pesquisa estudou a Lei brasileira de Anistia de 1979, no que se refere à responsabilização de militares e policiais por violação de Direitos Humanos no período ditatorial. “A discussão começa a partir de uma decisão do STF, que reconheceu que essa noção de que houve uma anistia de mão dupla no Brasil seria válida perante a constituição de 1988. Segundo essa decisão, não seria possível investigar e punir pessoas que praticaram tais crimes durante aquele período da ditadura, as violações estariam cobertas pela lei”, explica o pesquisador. Entretanto, em um segundo momento, a tese discutiu a possibilidade da manutenção ou não dessa decisão diante de uma determinação da Corte Interamericana de Direitos Humanos condenando o Brasil pelos crimes omitidos na Guerrilha do Araguaia e exigindo investigação e punição dos agentes públicos envolvidos. “A conclusão da pesquisa é de que os crimes praticados na ditadura constituem graves violações de Direitos Humanos e, perante o Direito Internacional de Direitos Humanos, a Ordem Jurídica Internacional e a própria Ordem Jurídica Brasileira, seria preciso sim essa responsabilização ainda hoje, visto que se trata de crimes contra a humanidade – que, como tal, são imprescritíveis”.