Mulheres na Ciência 8: Diálogo sobre cura, bem-estar e ciência é tema da roda de conversa
O uso de plantas medicinais e rituais para a cura fazem parte da vida humana desde as mais antigas civilizações. No Brasil, a prática está no cotidiano e nos lares das pessoas, sob influência das raízes indígenas, negras, camponesas e de outras culturas. O uso de plantas medicinais e fitoterápicos, por exemplo, faz parte da Política de Práticas Integrativas e Complementares do Sistema Único de Saúde (SUS).
Para celebrar o primeiro aniversário do projeto Mulheres na Ciência, e promover o diálogo entre os saberes tradicionais e as pesquisas científicas, o encontro – coordenado pela Fundação de Apoio da UFMG (Fundep) e pelo State Innovation Center – realiza, no dia 5 de agosto, às 15h, uma roda de conversa entre mulheres que compartilham com suas comunidades de origem os conhecimentos tradicionais para o tratamento da saúde física e mental, os chamados “saberes que curam”.
No Brasil, de acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), Minas Gerais é o segundo estado com maior número de localidades quilombolas (1021), atrás somente da Bahia (1.046). Em Belo Horizonte (MG), está localizado o quilombo Manzo Ngunzo Kaiango, do qual faz parte a líder comunitária Cássia Cristina da Silva, que é mestra e professora no Programa Transversal em Saberes Tradicionais da UFMG e participante desta edição do Mulheres na Ciência.
Cássia, que congrega rituais do candomblé e o que aprendeu com curandeiras, faz questão de compartilhar os seus conhecimentos de modo a garantir a continuidade e a circularidade deles. “É importante que as nossas tradições ocupem o cenário cultural e social do nosso país. Eles fazem parte da história, nos permitem contar algo sobre nós mesmos e reescrever os ensinamentos a partir da nossa própria oralidade”, diz a líder comunitária.
Segundo ela, “os saberes tradicionais representam a possibilidade de cura e, por consequência, da construção humana, porque a partir de nossas vivências construímos pontes até a nossa ancestralidade”.
O evento vai contar também com a presença de Carminda Monzilar, anciã do povo Umutina Balatipone, localizado em Barra dos Bugres (MT). A indígena criou oito filhos e apoiou o desenvolvimento de sua comunidade com o seu conhecimento repassado por seus ancestrais. De acordo com o Censo 2010 (IBGE) no Brasil, cerca de 900 mil pessoas declaram-se indígenas e, desse total, 57,7% residem em terras indígenas reconhecidas oficialmente.
A mediação será realizada por Leonice Mourad, professora do Departamento de Metodologia do Ensino, docente e coordenadora do Mestrado Profissional em Ensino de História da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), que já esteve presente na quinta edição do projeto, cujo tema foi “Pesquisadoras Negras”.
A acadêmica destaca que, nesta edição, sua participação se dá de outro lugar. “A proposta desta roda de conversa é a de que os conhecimentos tradicionais e os científicos possam estabelecer um diálogo em igualdade de condições, promovendo, por meio da celebração de 1 ano do projeto Mulheres na Ciência, a ampliação de perspectivas, estimulando a reflexão sobre a diversidade de conhecimentos que cada grupo carrega desde sempre”, analisa a professora.
A conversa também terá a participação de Juliana Mendes, doutora em Ciências Farmacêuticas pela UFMG e especialista no estudo de plantas que têm amplo uso popular no Brasil e, de Noemi Margarida Krefta, representante do Movimento de Mulheres Camponesas de Santa Catarina.
Mulheres na Ciência: um ano de ampliação dos horizontes científicos
Com oito edições realizadas, o projeto Mulheres na Ciência é promovido há um ano pela a Fundep, fundação de apoio da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e de cerca de 30 instituições de ciência e tecnologia nacionais – em parceria com o State Innovation Center, centro de inovação independente de apoio a iniciativas voltadas ao empreendedorismo e inovação nos campos de ciências, cidades e indústrias criativas.
O objetivo do projeto é popularizar o acesso à produção científica produzida por mulheres bem como discutir as questões relacionadas às condições de produção que afetam o gênero em âmbito científico, promovendo diálogo constante e troca de informações entre as participantes sobre a realização de projetos de impacto à sociedade.
Desta forma, os encontros do projeto, realizados com a periodicidade bimestral, trouxeram os temas “Saúde e Biotecnologia”, “Divulgação Científica”, “Pesquisadoras do Projeto Brumadinho”, “Pesquisadoras LBTs”, “Pesquisadoras negras”, “Pesquisadoras e Empreendedoras” e “Pesquisadoras e Mães”, com participantes de universidades de todo o país, startups e iniciativas como o projeto Parent in Science e Escalab UFMG.
Entre os impactos e resultados gerados pela comunidade estão a participação do grupo na She’s Tech Conference, maior evento de mulheres na tecnologia do país. A iniciativa tem ainda o apoio do BiotechTown – hub de inovação voltado exclusivamente para o desenvolvimento de empresas, produtos e negócios nas áreas de Biotecnologia e Ciências da Vida.
Saberes que curam | Mulheres na Ciência #8
5 de agosto | 15h
Inscrições gratuitas: https://bit.ly/mulheresnaciencia1ano
Carminda Monzilar | Anciã do povo Umutina Balatipone
Integrante do conselho de saúde da comunidade Umutina e do movimento das mulheres indígenas do Mato Grosso, Carminda é artesã e conhecedora dos remédios tradicionais de seu povo, que está localizado no município de Barra do Bugres (MT).
Cássia Cristina da Silva (Makota Kidoiale) | Liderança comunitária no quilombo e candomblé Manzo Ngunzo Kaiango (MG)
Mestra e professora no Programa de Formação Transversal em Saberes Tradicionais da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Cássia é líder comunitária no quilombo e candomblé Manzo Ngunzo Kaiango, localizado em Belo Horizonte (MG), militante do Movimento Negro Unificado (MNU) e do Coletivo Mães Pela Liberdade.
Juliana Mendes | Doutora em Ciências Farmacêuticas pela UFMG
Farmacêutica, mestre e doutora em Ciências Farmacêuticas pela UFMG, trabalha há mais de dez anos no desenvolvimento de projetos de pesquisa e extensão relacionados ao desenvolvimento e aplicações terapêuticas de produtos à base de plantas medicinais. É cofundadora da Mikania – Soluções em Fitoterapia, prestando consultoria científica para instituições e profissionais que trabalham com plantas medicinais e fitoterápicos.
Noemi Margarida Krefta | Movimento de mulheres camponesas de Santa Catarina.
Noemi é camponesa e graduada em ciências contábeis. A participante, que reside em Palma Sola (SC), é militante do movimento de mulheres camponesas de Santa Catarina, agricultora e integrante do grupo operativo da campanha contra os agrotóxicos e pela vida e conselheira suplente no Conselho Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional (Consea).
Mediação
Leonice Aparecida de Fátima Alves Pereira Mourad | Professora do Departamento de Metodologia do Ensino, docente e Coordenadora do Mestrado Profissional em Ensino de História da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM)
Professora na UFSM, Leonice tem experiência em ensino, pesquisa e extensão com temáticas de Educação, Ciências Sociais, História, Direito, Geografia e Ciências Agrárias Sociais. É mestre em História da América Latina, em Geografia, em Políticas Públicas e Gestão Educacional. Doutora em História da América Latina e Geografia