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Museu do futuro: menos “torre de marfim”, mais espaço de ação coletiva

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Colônia de férias no Museu de História Natural e Jardim Botânico da UFMG em 2019. Crédito: Mariana Dutra

Depois de ultrapassar a meta de um financiamento coletivo para resgatar seu acervo danificado em um incêndio, o Museu de História Natural e Jardim Botânico (MHNJB) da UFMG segue fortalecido. Mas, muito além do fomento financeiro, a instituição ganhou engajamento da população e um aprendizado importante para os profissionais que trabalham no museu: o único caminho para a construção desses espaços de cultura é aquele que passa pela participação coletiva e diversa da sociedade.  

Idealizado pela Fundep em parceria com a UFMG e o MHNJB, a campanha de matchfunding “Renasce Museu” tinha a meta de arrecadar R$ 300 mil. Mas, com o apoio de 1451 contribuintes, passou a marca dos R$ 400 mil.  

Para o arqueólogo e pesquisador do museu, Andrei Isnardis, a história do MHNJB e sua relação com a população ajudaram nesse engajamento. Ele também acredita que houve um sentimento de “resistência coletiva” em prol da organização. “Estamos atravessando um momento duro para a ciência e a mobilização passa por aí: as pessoas sentem o ataque que a área está sofrendo, então se unem para construir algo junto”, afirma. 

Mariana Cabral, que também é pesquisadora do museu na área de arqueologia, destaca que o formato participativo da campanha foi essencial para esse resultado. “Nós chamamos as pessoas a participarem do museu e isso toca a sociedade. Esse fazer junto é mais poderoso do que a gente tomar as decisões sozinhos dentro do museu”, frisa.  

 

O povo “quer cultura” 

O museólogo do MHNJB, André Leandro Silva, lembra que, historicamente, os museus não nasceram como espaços abertos e democráticos. Mas, ele acredita que isso pode mudar até porque a população tem, sim, o desejo de acesso a eles.  

“A gente tem mania de falar que as pessoas não se apropriam do patrimônio e jogam para o outro a responsabilidade da não relação. Mas essa apropriação acontece. O que precisamos é de uma nova postura das instituições, que devem ser referência para a sociedade e chamá-la para a construção”, diz. 

Andrei Isnardis reforça o argumento do museólogo e confronta a ideia de que “as pessoas acham museus chatos”. “Quando a gente cria oportunidade para as pessoas experimentarem o museu, elas se encantam. O problema é que as universidades, ao longo de suas histórias, não priorizaram essa interlocução”, diz. 

Mariana também lembra a responsabilidade da academia nesse processo de inclusão no caso dos museus universitários. Para ela, a academia precisa “ser menos torre de marfim e mais espaço de ação coletiva”. “É claro que esse engajamento não é algo consolidado no Brasil, mas a gente que está dentro da universidade também precisa reconhecer nosso papel: cabe a nós fortalecer esses espaços e torná-los mais democráticos”, alerta. 

Por outro lado, ela reforça a obrigação constitucional do poder público no apoio a essas instituições, lembrando que é inaceitável uma transferência da fonte de financiamento para a população. “O recurso tem que ser garantido pelo governo”, frisa. 

 

Inclusão garante futuro diverso 

Os pesquisadores do MHNJB destacam que essa ampla participação da sociedade é importante não apenas porque os museus são espaços de patrimônio público que devem ser apropriados por todos. Mas, também, porque esse é o único caminho para a construção de uma memória realmente coletiva e a garantia de um futuro diverso. 

“Quanto mais atores participarem dessa construção, mais ricas essas possíveis histórias vão se tornando. A gente pode falar dos indígenas de um mesmo lugar de elite branca ou pode mudar isso com a participação deles”, afirma Andrei Isnardis. 

Ele também traz o exemplo do acervo de vegetais do MHNJB, que guarda saberes tradicionais de 14 mil anos e ensina sobre a relação entre homem e natureza. “O cerrado está sendo destruído agora, mas temos 14 mil anos de convívio construtivo. Considerar esse saber é entender como é possível ter essa relação sem destruição, questionar as decisões tomadas na agricultura hoje e pensar o futuro”, diz. 

Outro exemplo trazido pela arqueóloga Mariana Cabral é o de preservação de construções históricas. Ela lembra que o Brasil tem muitas igrejas católicas como patrimônio cultural, mas o mesmo não acontece com os espaços de outras religiões.  

“Será que temos a mesma preservação em relação aos terreiros do candomblé ou de espaços de práticas xamânicas dos indígenas? Não. Então há chance de essas outras histórias não chegarem para o futuro. Isso não pode acontecer: precisamos construir possibilidades de futuro com diversidade e não estreitamento de possibilidades”, destaca.

Gostou do tema? Ouça o debate completo com os pesquisadores do MHNJB

 

Equipamentos culturais apoiados pela Fundep

Além de apoiar o MHNJB, a Fundep promove um extenso trabalho de gestão financeira e administrativa de diversos outros espaços de cultura ligados à UFMG. De acordo com o  analista de projetos na Fundep, Marcos Mardem, a Fundep também está sempre atenta à prospecção de oportunidades para esses espaços, a fim de garantir recursos e fortalecimento da pesquisa na área de cultura.

Os museus que administramos são espaços de preservação e difusão dos conhecimentos relativos à história de Minas Gerais e por isso têm grande importância para a sociedade. Eles precisam ser preservados porque despertam curiosidades e reflexões, além de contribuir com a educação da população por meio dos seus acervos, exposições e atividades diversas”, afirma.

Veja a lista dos equipamentos culturais da UFMG que contam com o apoio da Fundep:

  • Espaço do Conhecimento da UFMG
  • Centro Cultural da UFMG
  • Conservatório da UFMG
  • Centro Cultural da UFMG em Tiradentes
  • Museu Itinerante da UFMG
  • Observatório Astronômico Frei Rosário
  • Museu de História Natural e Jardim Botânico da UFMG
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