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No Mês da Mulher, conheça identidades de cientistas brasileiras

Postado em Impacto Fundep
Célia Xakriabá, pesquisadora da UFMG. Crédito: Edgar Kanaykõ

Realizada pela Fundep, Fundação de Apoio da UFMG, série digital reúne narrativas sensíveis de pesquisadoras de quatro institutos de ciência e tecnologia no país 

 

Mesmo sendo maioria em todos os níveis da educação superior, um estudo de 2021 das universidades federais de Alagoas, Pernambuco e Santa Catarina aponta que as mulheres representam apenas 37% das bolsas de produtividade do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e 26% das bolsas de nível 1 A – o patamar mais prestigiado da entidade.  

A desigual distribuição das tarefas domésticas entre homens e mulheres e a desconfiança no trabalho de quem divide a atenção entre pesquisa e família estão entre os fatores que explicam essas diferenças. “Em ambientes dominados por homens, é difícil você se convencer que, de fato, tem excelência. Ao longo da minha trajetória eu fui criando uma sensibilidade para lidar com situações hostis, mas ainda hoje enfrento dificuldades”, relata a professora Ana Paula Fernandes, da Escola de Farmácia e do CT Vacinas da UFMG e uma das desenvolvedoras da Spin-Tec, a potencial vacina brasileira contra a covid-19.  

Ana Paula Fernandes é uma das pesquisadoras retratadas na série “Identidades na ciência”, iniciativa que buscou criar narrativas sensíveis sobre as subjetividades das mulheres na produção de conhecimentos.  

Quatro pesquisadoras de institutos de ciência e tecnologia do Brasil foram retratadas em reportagens-perfis que compartilham suas histórias de vida e suas trajetórias com o conhecimento desde a infância até a atuação atual em diferentes áreas do conhecimento. Além de Ana Paula Fernandes, a série conta as histórias de Leonice Mourad, que atua principalmente em História e Educação na Universidade Federal de Santa Maria (UFSM); Sarug Dagir, da área de Psicologia da Universidade Federal do Tocantins (UFT); e Simone Evaristo da Citotecnologia do Instituto Nacional de Câncer (Inca).  

Nos perfis, foram abordadas questões como a representatividade das mulheres negras, o acesso das transexuais e travestis à universidade, e o fenômeno conhecido como teto de vidro, que se refere às barreiras invisíveis que  impedem o crescimento profissional ou acadêmico das mulheres. 

Para as mulheres negras, o cenário é ainda mais desafiador: 40,9% delas têm sua força de trabalho subutilizada e apenas 1,9% ocupam cargos de liderança no mercado de trabalho. Os dados são do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese), de 2021. “O lugar das diferenças está sendo ameaçado. E onde a diferença não é bem vista, o mito da homogeneização e da padronização volta a ganhar voz”, comenta a professora Leonice Mourad, da UFSM. 

Já as pessoas transexuais e travestis enfrentam barreiras de acesso logo nos primeiros níveis de educação. De acordo com a Associação Nacional de Travestis e Transexuais (Antra), cerca de 70% das pessoas transexuais não concluíram o ensino médio e apenas 0,02% acessam o ensino superior. “A ciência precisa da diversidade para não ficar reproduzindo o que está aí desde sempre. Será que no futuro estaremos tão divididos quanto ao gênero? Eu acredito que não, e a diversidade ajuda a trazer novos ângulos, facetas e olhares para esta discussão”, complementa a professora Sarug Dagir, da UFT. 

 

Visualizando a diversidade 

A série também traz uma exposição digital com pesquisadoras dos mesmos institutos de pesquisa acerca da pergunta: qual é a sua identidade na ciência? A proposta é romper com o distanciamento dos ambientes científicos e mostrar as subjetividades das mulheres em lugares que expressam seus estilos de vida. O resultado são fotografias das pesquisadoras em suas casas, na natureza, praticando esportes, entre outros cenários pouco convencionais quando o assunto é ciência. 

A professora Simone Evaristo comenta a importância da imagem para fortalecer e normalizar a diversidade: “precisamos mudar culturalmente o que estamos acostumados a visualizar como normal. Por isso, a importância de iniciativas como essa, que mostram que as pesquisadoras são mulheres diversas”. 

 

Mulheres na coordenação de projetos  

Mulheres são 90% dos professores da educação infantil, 68% do ensino fundamental, 60% do ensino médio e apenas 46% do ensino superior, segundo dados do Ministério da Educação. O declínio evidencia como mulheres encontram mais desafios que oportunidades para seguir a carreira acadêmica. As mulheres coordenam 48% dos projetos de pesquisa, extensão e desenvolvimento institucional apoiados pela Fundep na UFMG, indício dos efeitos do chamado teto de vidro. 

Na avaliação do presidente da Fundep, Jaime Arturo Ramírez – que neste 8 de março chamou atenção para o chamado “efeito-tesoura”, que faz com que, “à medida que avançam na carreira e alçam a pirâmide acadêmica, as mulheres vejam diminuídas as suas chances de participação em funções mais estratégicas, como a coordenação de projetos” – cabe às instituições como a Fundep apoiar as universidades “na construção da equidade das condições de produção científico, no reconhecimento da inequívoca capacidade de gestão e articulação das mulheres, e em sua disposição para  enfrentar e superar desafios”. 

De acordo com Dilian Caiafa, da comunicação e marketing da Fundep, idealizadora da série, “o exercício de refletir sobre as identidades das mulheres na ciência, em texto e imagem, faz emergir pesquisadoras possíveis que têm desafios e oportunidades, mas principalmente, que são inspirações para atuais e futuras gerações”. 

A série “Identidades na Ciência” foi fomentada pela Fundación Gabriel García Márquez e pelo Instituto Serrapilheira, com o apoio do Escritório Regional de Ciência da Unesco na América Latina e Caribe.  

Clique aqui e confira todo o conteúdo produzido. 

Assista a roda de conversa com as quatro pesquisadoras retratadas na série que lançou a iniciativa. 

 

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