Uma das aves mais ameaçadas das Américas e uma das mais raras do mundo, o pato-mergulhão foi visto pela segunda vez no estado de São Paulo, após 197 anos do primeiro registro, segundo a Fundação Florestal. Essa redescoberta histórica foi feita no Parque Estadual Serra do Mar pela vigilante Fabiana Pereira. Em sua ronda de rotina, um “pássaro” lhe chamou a atenção. “Na hora pensei: parece um biguá!”, contou Fabiana, se referindo à comum ave aquática. Ao analisar a foto, notou que tinha algo diferente: “percebi que ele tinha um topete chique, mas não dei muita importância”. A surpresa veio quatro meses depois, quando viu um bicho igual em uma reportagem de TV. Era um pato-mergulhão, uma espécie listada como criticamente ameaçada de extinção.
Pato-mergulhão: sinal de equilíbrio ambiental
Com nome científico de Mergus octosetaceus, o pato-mergulhão é extremamente sensível à degradação e impactos ecológicos. Qualquer alteração hidrológica em seu habitat, como expansão de atividades agropecuárias, poluição e barramento de rios, e supressão de vegetação ciliar, podem inviabilizar sua sobrevivência no local. Por isso, ele é um importante bioindicador da qualidade das águas.
Estima-se que restem apenas 250 exemplares da espécie encontradas exclusivamente no Brasil, no Parque Nacional da Serra da Canastra e áreas próximas à Serra do Salitre, (MG), no Parque Nacional da Chapada dos Veadeiros (GO), e na região do Jalapão (TO).
Projeto na UFMG preserva a espécie
Na Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), um projeto de conservação do pato-mergulhão está em desenvolvimento por meio do Instituto Chico Mendes (ICMBio). A iniciativa estuda a história evolutiva do pato-mergulhão e identifica suas relações de parentesco, levantando dados importantes para a elaboração de estratégias de manejo que visam a preservação da ave. “Nossos parceiros fazem o trabalho de campo e manejo da espécie, enviando amostras de tecido para análises de DNA. Com a investigação de variações moleculares podemos, por exemplo, entender mais sobre o comportamento reprodutivo do pato, o status de ameaça das populações remanescentes e o melhor manejo dos indivíduos de cativeiro”, explica o professor do Instituto de Ciências Biológicas (ICB) da UFMG e coordenador da pesquisa, Fabrício Santos. “Protegendo o pato-mergulhão, conservamos, também, as matas e os rios onde ele vive”, completa Davidson Campos, mestrando que compõe a equipe.
O projeto é financiado pela Fundação Grupo Boticário de Proteção à Natureza e conta, também, com a parceria do Instituto Terra Brasilis. A gestão administrativa e financeira é realizada pela Fundep, que viabiliza atividades fundamentais para o desenvolvimento da pesquisa. Clique aqui e saiba mais sobre este projeto Fundep.
Redescoberta em SP
Devido à relevância do registro em São Paulo, as equipes dos Núcleos Caraguatatuba e Padre Dória produziram uma nota científica com o título: “Second record of Brazilian Merganser Mergus octosetaceus in the state of São Paulo, south-east Brazil, after almost two centuries” ou “Segundo registro do Pato-mergulhão Mergus octosetaceus para o Estado de São Paulo, Sudeste do Brasil, após quase dois séculos”. O artigo foi enviado para publicação no “Bulletin of the British Ornithologist’s Club”, um dos mais importantes veículos científicos voltados para a ornitologia no mundo.
Com informações do site da Fundação Florestal