Dispositivo de desinfecção do ar foi criado por pesquisadores da UFMG e tem eficácia de 85 a 95% contra vírus, bactérias e fungos. Patente já está disponível para uso em empresas e instituições.
Inativar o coronavírus por meio de um sistema de baixo custo montado por qualquer pessoa em sua própria casa parece uma realidade distante. No entanto, é exatamente esse o objetivo de uma equipe multidisciplinar de pesquisadores da UFMG, que desenvolveu um dispositivo de baixo custo que elimina a carga de microrganismos no ar. Testes realizados em ambientes fechados comprovaram eficácia de 85 a 95% após 24 horas de uso em locais sem ventilação natural.
O aparelho foi idealizado para possibilitar a desinfecção do ar em pequenos ambientes, como quartos de hospitais ou residências, e vem como uma alternativa poderosa para o combate ao novo coronavírus. A equipe de pesquisadores começou a trabalhar no desenvolvimento de um protótipo ainda em abril de 2020, no estágio inicial da pandemia de Covid-19. O grupo, formado por sete professores e cinco colaboradores de áreas como biologia, engenharia, física, conservação preventiva de bens culturais e imagem científica, receberam, a partir do segundo semestre do ano passado, apoio financeiro da Pró-reitora de Pesquisa da UFMG para realização de experimentos e aperfeiçoamento da tecnologia. A Fundep faz a gestão dos recursos do projeto.
O diferencial do equipamento, cuja estrutura é similar à de um ventilador torre, está em seu baixo custo de produção: menos de R$ 400. Equipamentos similares estão disponíveis em outros países, mas seu custo é proibitivo para uma adoção ampla. “Desenvolver um equipamento eficiente e de baixo custo, adequado não só para hospitais, era o nosso objetivo. Pretendemos chegar às residências, especialmente às pessoas do grupo de risco”, afirma um dos pesquisadores envolvidos na empreitada, o professor Alexandre Leão, do Departamento de Fotografia e Cinema da Escola de Belas Artes (EBA). “Foi esse espírito que também marcou a construção do protótipo, quase todo elaborado com peças doadas e com participação voluntária”, acrescenta.
Funcionamento
O dispositivo de desinfecção do ar é feito de MDF cru – material derivado da madeira de média densidade, com papel alumínio de cozinha e um ventilador normalmente utilizado para computadores, todos materiais baratos e de fácil acesso. A peça mais cara é uma lâmpada UV-C.
O equipamento tem estrutura tubular, com cerca de 90 centímetros de comprimento, que capta o ar em volta por uma extremidade. Esse ar passa por dentro do aparelho, onde está localizada a lâmpada UV-C, e sai na extremidade superior. Quando recebe a luz ultravioleta, o vírus é inativado, tornando-se incapaz de contaminar. Se houver uma coleta do ar, o exame vai detectar a presença do genoma viral, o que indica que o vírus ainda está no ambiente, mas ele não terá potencial para transmitir a doença. O dispositivo também tem a preocupação de vedar toda a radiação UV-C, para evitar que sua exposição indesejada possa ocasionar problemas para as pessoas que estejam perto do aparelho.
O dispositivo foi idealizado para permanecer ligado 24 horas por dia. Por isso, houve a preocupação de garantir que o ventilador utilizado fosse de baixo ruído, evitando grandes incômodos no uso cotidiano. Sua capacidade de filtragem é de 55 metros cúbicos de ar por hora, o que é considerado suficiente para um quarto residencial de tamanho médio. Para verificar se a área interna dos ambientes seria coberta pelo aparelho, basta fazer o cálculo considerando a estrutura total de cada cômodo.
Jônatas Abrahão, virologista, professor da UFMG e integrante da equipe que desenvolveu o dispositivo de desinfecção do ar, conta que o grupo não chegou a realizar experimentos diretos com o Sars-CoV-2, vírus causador da Covid-19, por razões de segurança. No entanto, os testes foram feitos com microrganismos mais resistentes do que o coronavírus. “Um dos propósitos é combater bactérias multirresistentes presentes em hospitais, fato percebido há muitos anos na área médica como uma preocupação, o que ainda demandará testes e experimentos biológicos”, justifica Abrahão.
Alexandre Leão ressalta que a aplicação do equipamento pode ir além da neutralização do Sars-CoV-2. “Pesquisadores do ICB avaliam que outros agentes podem ser neutralizados pela tecnologia”, afirma ele, citando os patógenos do sarampo e da tuberculose.
Transferência para empresas e instituições
A patente do dispositivo de desinfecção do ar, depositada pela Coordenadoria de Transferência e Inovação Tecnológica (CTIT), está disponível para empresas e instituições que queiram utilizar a tecnologia em suas instalações. “A tecnologia foi motivada pela necessidade de combater o vírus causador da Covid-19, mas tem o potencial para diversos usos. Estamos em contato com hospitais e a perspectiva é utilizar o equipamento para neutralizar microorganismos em locais críticos como blocos cirúrgicos”, explica o professor Alexandre Leão.
O professor também explica que a tecnologia tem finalidade social, por isso será cedida de forma gratuita a empresas e órgãos públicos, e hospitais públicos de Minas Gerais e do Rio de Janeiro já estão estudando a adoção do dispositivo em suas instalações. “No caso de empresas privadas, a ideia é fornecê-la com o menor custo possível para facilitar o acesso e a utilização do dispositivo. Queremos que essa tecnologia chegue ao maior número de pessoas“, afirma Alexandre. As negociações devem ser intermediadas pela CTIT.
Apoio Fundep
A Fundep atua na gestão do projeto, administrando os recursos de pesquisa, orientando os pesquisadores e realizando as aquisições necessárias à produção do dispositivo. “Vejo como é importante a atuação da Fundação em projetos como esse, que buscam dar respostas para diferentes aspectos da pandemia de Covid-19. Saber que faço parte de uma instituição que apoia a ciência e o progresso da sociedade traz uma imensa satisfação e alegria”, explica Laura Barreto, do Centro Integrado de Atendimento da Fundep.
A Fundep acompanhou todas as etapas do projeto e continua dando suporte para a equipe de pesquisadores. “A Fundação nos ofereceu um grande apoio neste projeto e é uma parceria de grande importância para a pesquisa científica, principalmente neste momento crítico da pandemia de Covid-19″, pontua Alexandre Leão.
Saiba mais sobre o dispositivo de desinfecção do ar:
Com informações da UFMG