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Em estudo na UFMG, vacina contra a Covid será mais fácil de produzir e tem potencial para enfrentar variantes do vírus

Postado em Ciência, Tecnologia e Inovação
Pesquisadores do CT Vacinas conduzem pesquisa do novo coronavírus (Foto: Pedro Vilela/Getty Images)

Vacina está em formulação para fases de testes com humanos e compõe plataforma com cinco iniciativas em andamento do CT-Vacinas  

 

No momento em que o Brasil vive o pior cenário no enfrentamento da Covid-19 e a população sonha com a vacina brasileira, uma centelha de esperança parece se manter viva nos laboratórios do Centro de Tecnologia em Vacinas (CTVacinas) da UFMG, onde cinco plataformas são testadas para a produção de imunizantes contra o SARS-CoV-2. Uma delas, baseada na tecnologia de proteína recombinante, se destaca por seu potencial de ser uma vacina mais fácil de produzir e que pode combater as variantes do vírus. 

 De acordo com a professora titular da Faculdade de Farmácia da UFMG e pesquisadora do CTVacinas, Ana Paula Fernandes, o estudo faz parte de um conjunto de pesquisas apoiadas pelo RedeVírus, comitê formado pelos Ministério da Saúde e Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovações para o desenvolvimento de diagnósticos, tratamentos, vacinas e produção de conhecimento sobre o vírus.  

 “No início do ano passado, quando ficou claro que a pandemia chegaria ao Brasil, mobilizamos o CTVacinas para planejar ações estratégicas. Desenvolvemos um projeto para testar várias plataformas e, depois de muito estudo, algumas promissoras chegaram a um estágio mais avançado de testes”, afirma. 

 Uma delas é a vacina que utiliza a tecnologia de proteína recombinante, baseada na modificação genética da bactéria E.coli, que recebe fragmentos do genoma do Sars-Cov-2. Essa bactéria produz duas proteínas utilizadas pelo coronavírus para infectar as células humanas e, ao serem injetadas no corpo humano, essas proteínas produzem resposta imune. Segundo a pesquisadora, a plataforma já é usada no desenvolvimento de outras vacinas contra HPV e Hepatite, por exemplo. É, portanto, uma tecnologia com critérios de segurança bem estabelecidos.  

Ana Paula acredita que um dos principais diferenciais desse imunizante é que se trata de uma vacina com desenvolvimento e distribuição com custo mais baixo e, portanto, mais adequado à realidade do Brasil. “A produção do ingrediente farmacêutico ativo (IFA) é mais simples e pode acontecer em uma estrutura menos robusta. É uma fábrica que o Brasil tem condições de ter, até mesmo dentro da Funed (Fundação Ezequiel Dias)”, afirma. 

 Além disso, a pesquisadora afirma que a vacina tem o potencial de contornar o problema das variantes do vírus. Isso porque, além de gerar a produção de anticorpos neutralizantes do Sars-Cov-2, o imunizante também induz resposta celular. Ou seja, o sistema imune passa a ativar células que são capazes de reconhecer as outras células infectadas e combater o vírus.  

“O anticorpo impede que o vírus se ligue à célula, mas quando surgem as variantes, o vírus escapa desse sistema de defesa. É por isso que os estudos têm mostrado que, além da indução de anticorpos, a resposta celular do sistema imune é extremamente importante para combater a Covid”, detalha. 

 

Etapas de desenvolvimento 

 Os estudos com essa plataforma começaram no início de 2020 e, desde então, os pesquisadores já desenharam a fórmula inicial da vacina e testaram em animais, na fase chamada pré-clínica. Agora, o momento é de formulação de uma vacina própria para injetar em humanos. Antes de aplicá-la em pessoas, ainda há uma fase de teste dessa fórmula em animais e, só depois, inicia-se o teste em humanos.  

“As fases clínicas 1 e 2 são de testes com 30 e 40 pessoas e devem acontecer até o final deste ano. Ainda é necessária uma terceira fase de testes, que é com cerca de 30 mil pessoas. Isso deve acontecer no início de 2022”, afirma Ana Paula. A expectativa é que a vacina comece a ser produzida no segundo semestre do ano que vem. A administração é intramuscular, em duas doses.  

A pesquisadora explica que essa é uma das plataformas com estudos mais avançados no CTVacinas, mas há outras quatro em andamento no centro de pesquisa. De acordo com o Ministério da Saúde, há, pelo menos, 17 vacinas em estudo no Brasil.   

“Não devemos nos preocupar se de 17 sairão uma ou duas, nem pensar em uma corrida como competição. Cada pesquisa, cada avanço nos estudos é um ganho nacional e foi justamente assim que outros países como Alemanha, Inglaterra e EUA chegaram às suas vacinas”, conclui.  

O CT- Vacinas também conta com o apoio da Fundep, que desenvolve um acompanhamento exclusivo para dar celeridade à aquisição de insumos, serviços e contratação de pessoal nas pesquisas voltadas para o combate à Covid-19.  

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