De 3 a 10 de novembro foi realizada mais uma edição do Websummit, em Lisboa. Considerado um dos maiores eventos de tecnologia do mundo, neste ano foram 24 conferências com palestras distribuídas ao longo de 3 dias, o evento contou com a presença de quase 70.000 participantes de 159 países, com cerca de 1.200 palestrantes. No Websummit tudo é muito intenso, muitos conteúdos, muitos stands, muitas atividades, seriam necessários diversos artigos para descrever apenas os pontos de destaque do evento, mas arrisco uma pincelada em algumas questões.
Penso que o Websummit pode ser considerado um dos principais eventos do mundo por conseguir equilibrar conteúdo de qualidade (sobre tecnologia e tendências, compartilhamento de experiências, etc.), ambiente para networking com destaque para o sunset summit e night summit e muita discussão sobre o relacionamento humano, diversidade e inclusão a partir do uso da tecnologia ou não.
Na abertura o fundador da web Tim Berners Lee falou sobre o momento que a internet passa, chamado de 50/50, fazendo analogia ao fato de 50% da população possuir acesso à internet e a outra metade não possuir acesso. Um momento de responsabilidade sobre em que transformaremos a rede, podendo ser um ambiente onde a veracidade das informações é questionada a partir do fenômeno das fake news ou um ambiente de inclusão, desenvolvimento social e redução de desigualdades. Reforçou então o movimento #fortheweb (http://webfoundation.org/fortheweb) que clama por um contrato entre governos e indústrias (não um manifesto) para a internet, uma discussão de direitos humanos, envolvendo o compromisso com o comportamento adequado no uso das redes, mantendo o ambiente democrático e acessível.
O primeiro ministro português encerrou a sua fala na abertura oficial do evento dizendo que “A inovação é a engrenagem para o desenvolvimento e conecta pessoa ao redor de todo o mundo. Não podemos criar nada novo sem diversidade. E para ter diversidade é preciso ter tolerância, pois sem tolerância não teremos inovação. Apenas a liberdade permite a criatividade. Conectar pessoas. Essa é a nossa nova era.”.
O evento foi marcado pela presença de palestrantes de destaque internacional, empresas de todos os portes apresentando seus produtos e serviços inovadores e grande número de stands com programas nacionais de apoio à startups e inovação de uma forma geral. Contei mais de 15 destes stands convidando empresas a se instalarem em seus países, dentre eles o Brasil estava representado pela Apex e ABDI.
Os assuntos relacionados as tendências tecnológicas foram destaque em todos os dias, com fortes discussões sobre inteligência artificial, blockchain e cryptomoedas. Computação quântica começa a aparecer, ainda de forma tímida.
Especificamente sobre IA as conversas foram mais profundas do que no ano anterior, com aplicações práticas e empresas apresentando seus primeiros resultados, mas de uma forma geral o único consenso é de que estamos passando por um momento único na história, que mudará definitivamente a forma como utilizamos e nos relacionamos com tecnologia de uma forma ampla. Usuários mobile + AI + IoI + Cyber Security + Baixo custo de computação + Nuvens públicas = PerfectStorm for AI (vale a pena pesquisar sobre o assunto).
Junto com a discussão técnica ganharam mais espaço as reflexões sobre a utilização da tecnologia para o bem da sociedade, a inovação como um caminho para catalisar o desenvolvimento social, redução de desigualdades e atenção às minorias. Foram dezenas de palestras discutindo questões como AI for good, diversidade, inclusão e educação de uma forma ampla.
Como ter inovação disruptiva sem diversidade? Os temas caminham juntos, inclusive com a inclusão das minorias.
A Microsoft lançou uma campanha mundial contra a guerra cibernética, assunto que vale a pena ficar atento! É o Cybersecurity Tech Accord (https://cybertechaccord.org/).
O papel da China neste mundo em rediscussão é fundamental, dezenas de empresas de tecnologia cresceram de forma assustadora focadas no mercado local (chinês) e agora buscam a abertura para novos mercados, o que vai provocar um novo balanceamento das forças tecnológicas e econômicas mundiais. Após estas discussões inseri na agenda 2019 uma possível participação na RiseConf (https://riseconf.com/), em Hong Kong.
Por fim, destaco as excelentes discussões que envolvem o papel dos gestores e líderes em uma sociedade que passa por transformação. João Rufino, da Google, em sua fala sobre a construção de times coesos afirmou que as pessoas não querem mais um líder estilo herói, quando ele está bem todos ganham, quando está mal todos morrem. Precisamos pensar nas organizações como naves espaciais, onde viveremos juntos por muitos anos, cada um com sua função e contribuição, convivendo harmonicamente. E neste sentido pensar em quem você quer na sua nave, não por aspectos técnicos, mas comportamentais é fundamental!
O papel dos gestores no aprendizado do time é fundamental, o papel dos líderes na manutenção da cultura é essencial. A sustentação dos valores principais e propósito envolve todos de todas as equipes.
Como líderes e gestores precisamos saber exatamente quais as pessoas que queremos junto, apoiar no aprendizado delas, construir ferramentas de engajamento e tornar cada um participante das construções. A micro gestão deve ser delegada, isso é empoderar.
Tudo isso me leva a concordar com os comentários de que o Websummit não é o maior evento de tecnologia, mas o maior evento de pessoas do mundo.
Artigo de Ramon Azevedo, diretor da Fundep